quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Crimes & Culinária - JANTANDO NA CASA DE AGATHA




Charlotte de morangos


Desta vez, para a seção mais gostosa desta blogazine, Crimes & Culinária, não busquei inspiração na obra de Agatha Christie, mas, sim, em sua “Autobiografia”.


Não é por pura coincidência, como os leitores da escritora facilmente percebem, que as refeições são uma constante em seus livros, sejam cotidianos cafés da manhã, sejam sofisticados jantares, nestes últimos, onde os pratos são descritos com muito conhecimento de causa.


Pudin Diplomatique de frutas vermelhas


Ocorre que, na casa onde a pequena Agatha cresceu, os jantares formais, para vários talheres e com uma cuidadosa seleção de pratos nobres, eram uma constante:


A alimentação servida a nossos hóspedes era incrivelmente opulenta, comparada com os padrões de hoje — e, na realidade, tinha que haver uma cozinheira e uma ajudante para produzir tudo aquilo! Encontrei por acaso, outro dia, o cardápio de um dos nossos jantares (para dez pessoas). Começava com uma escolha entre duas sopas: caldo ou creme. Depois havia rodovalho cozido ou filé de linguado. A seguir um sorvete. Depois carneiro. Depois, inesperadamente, maionese de lagosta. Pudin diplomatique e Charlotte russe eram os doces.

(Agatha Christie em sua “Autobiografia”)


Bolo Charlotte de frutas vermelhas


Ao me deparar com esta passagem da “Autobiografia”, fiquei encantada ao descobrir que as sobremesas “chiques” servidas nos jantares na casa de infância de Agatha são duas das minhas prediletas: a Charlotte Russe, no Brasil conhecida apenas como “Charlotte”, e o Pudin Diplomatique, em francês, também conhecido como “Diplomat Pudding” na seara inglesa. São duas sobremesas sensacionais!




CHARLOTTE  RUSSE:  BELEZA  E  ELEGÂNCIA  QUE  SE  COME



Charlotte Russe tradicional


Também chamada de Charlotte Royale, a belíssima sobremesa tem uma história controversa, com a Rússia e a Inglaterra disputando sua origem – aliás, como bem cabe a uma preciosidade deliciosa, linda e delicada como ela.

De acordo com a versão russa, a Charlotte Russe foi criada no século XIX pelo Chef e patissier francês Marie-Antoine Carême (1784-1833), na cidade de São Petersburg, sob o nome de “Sharlotka” como um presente para a família imperial do Czar Alexandre I.



Charlotte de chocolate


Já a versão inglesa alega que a sobremesa foi criada no começo do século XIX em homenagem à Rainha Charlotte da Inglaterra, esposa do Rei George III, e que o patissier francês Marie-Antoine Carême  teria adaptado a receita original inglesa, feita com brioches e compota de frutas, usando biscuits à la cuillère e recheio de bavaroise (creme típico da Baviera, sul da Alemanha, semelhante a mousse com gelatina).

Seja como for, o fato é que 9 entre 10 pessoas pensam que a Charlotte Russe não é nem russa, nem inglesa, mas, sim, francesa! E eu penso simplesmente que ela é maravilhosa.



Pudin Diplomatique de frutas vermelhas



Originalmente, pão dormido e mergulhado em manteiga era usado como revestimento ou suporte de um molde, o qual é preenchido com um purê de frutas ou creme. Atualmente, usa-se pão de ló, camadas de pão ralado, biscoitos ou bolo de esponja (“ladyfingers”). O recheio pode ser coberto com uma fina camada de gelatina, geleia, ganache ou chocolate derretido, e decorado com frutas frescas, nozes, doces e balas.



Pudin Diplomatique de limão


Há centenas de variedades de Charlotte Russe e milhares de receitas facilmente encontradas na internet. Então, basta-nos aproveitar e nos deliciarmos!



PUDIN  DIPLOMATIQUE: ELEVANDO  O  PUDIM  A  OUTRO  NÍVEL



Pudin Diplomatique


Camadas de texturas misturadas, com a crocância do pão e a cremosidade do crème anglaise, o Pudin Diplomatique já seria delicioso assim mesmo. Mas, só para ficar maravilhoso, passas embebidas em rum quente se juntam a esta delícia de pudim assado!


Pudin Diplomatique


Popular sobremesa na Hungria, o Pudin Diplomatique foi servido pela primeira vez em 1908 em uma conferência na Bósnia. É nomeado assim, pois constitui uma parte importante dos menus das conferências diplomáticas.

Também se pode encontrar dezenas de receitas de na internet, desde a tradicional até as variações, mas todas prometem ser deliciosas!



quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Miss Marple: Chá & Bolinhos - MANUAL DAS BISBILHOTEIRAS DE ST. MARY MEAD






Se você morasse em uma singela aldeia inglesa como St. Mary Mead, lar de Miss Marple, a esperta velhinha detetive criada por Agatha Christie, os mexericos, pequenos ou grandes, inofensivos ou maldosos, fariam parte de sua vida, querendo ou não!

Você tomaria intrigas com o café da manhã e passaria manteiga de ervas e indiscrições em seu pão. Você almoçaria frango temperado com comentários impertinentes, beberia um copo de água gazosa misturado com fofocas e saborearia uma deliciosa sobremesa de escândalos cochichados ao pé do ouvido. Mais tarde, você salpicaria canela e dúvidas quanto à moral dos vizinhos em seu chocolate quente e comeria bolinhos recheados com creme e fuxicos.


Assim imagino St. Mary Mead


Seu chá das 5 h. seria adoçado com mel e insinuações maliciosas e suas torradas seriam cobertas com geleia e bisbilhotice. À noite, você tomaria um prato fundo de sopa com gengibre e notícias apimentadas, e mais tarde beliscaria biscoitinhos cobertos de açúcar e informações constrangedoras sobre pessoas conhecidas que lhe fariam corar!

Só depende de você escolher de que lado dos mexericos prefere ficar: do lado de quem é uma vítima deles ou do lado de quem os produz. Mas, aconselho que pense muito bem! Afinal, não apenas as fofoqueiras se divertem muito mais do que suas vítimas, como também, conforme afirma nossa sábia velhinha detective:


Joan Hickson como Miss Marple


Concordo em que o mexerico é errado e até cruel, mas quase sempre é verdadeiro, não é?

(Miss Marple em Assassinato na Casa do Pastor)


Então, caso tenha se decidido pelos prazeres da bisbilhotice, aqui estão algumas dicas preciosas reunidas neste MANUAL, elaborado com base nos exemplos das grandes e adoráveis (ou nem tanto...) fofoqueiras criadas por Agatha Christie. Aproveite e divirta-se você também!



MANUAL  DAS  BISBILHOTEIRAS  DE  ST.  MARY  MEAD






1. Xeretar e vigiar a vida dos outros incansavelmente.


* — E foi aqui que tudo aconteceu, então? — perguntou Miss Marple, acrescentando, em tom de desculpa: — Tenho a impressão de que a senhora está me achando muito curiosa...
(A Mão Misteriosa)

* O olhar astuto de Miss Marple percorria toda a sala.
— Estou vendo que a senhora não tem tapete diante da lareira — observou.
Dinah Lee virou-se e a encarou. Não tinha a menor dúvida de que a velha senhora a estivesse passando por um escrutínio.
(Um Corpo na biblioteca)

* — A srta. Wetherby telefonou — disse ela. — A sra. Lestrange saiu
às oito e quinze e não voltou até agora. Ninguém sabe aonde ela foi.
(...) — Também não foi ao dr. Haydock. A srta. Wetherby sabe disso
porque telefonou para a srta. Hartwell, que mora ao lado dele e teria
dito algo, caso a sra. Lestrange houvesse aparecido por lá.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* Miss Marple inclinou-se para frente. Tinha uma mancha cor-de-rosa em cada bochecha. Achar-me-ia muito indiscreta e muito indelicada se lhe perguntasse o que dizia a mensagem?
(A Mão Misteriosa)

* — Ela vive ocupada demais com o seu jardim e não cuida do marido. É preciso estar sempre de olho nos homens, sempre, sempre — repetia a srta. Hartwell.
(Um Corpo na biblioteca)



Deddie Davies como Mrs. Salisbury



* Miss Marple sempre vê tudo. A jardinagem é um bom disfarce, e o hábito de observar passarinhos com binóculos de longo alcance sempre pode ser útil.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* — É mesmo? Mas então falaram de quê?
— Quadros, música, livros — respondi, falando a verdade. Os únicos assuntos que interessam à srta. Hartwell são puramente pessoais, e por isso ela me olhou com suspeita e descrença.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* — Fiquei pensando, não haverá um pouco de romance no ar? — sugeriu, com ar maroto, Miss Marple. — Com aquele rapaz alto?
— Com Patrick, a senhora quer dizer? Não, eu não...
— Não, eu falo de um rapaz alto, de óculos. Já o vi por aí.
(Convite para um Homicídio)

* — O pobre coitado vai ser agarrado antes que perceba onde está. Ele é inocente como um bebê que está para nascer, todo mundo sabe disso.
(Srta. Hartwell em Assassinato na Casa do Pastor)

— Miss Marple também não tem perdido tempo. Fletcher relata que ela tem tomado o café da manhã no Bluebird. Já foi tomar um cálice de sherry com Hinchliffe e Murgatroyd e chá em Little Paddocks. Esteve apreciando o jardim dos Swettenham... e foi conhecer as curiosidades indianas do coronel Easterbrook.
(A Mão Misteriosa)



2. Afinal, para que servem as janelas se não para espionar os vizinhos?



Angela Lansbury como Miss Marple


* — Como se consegue ingerir algum alimento neste lugar. Devem fazer suas refeições em pé, junto à janela, para ter certeza de que não estão perdendo nada.
(Pastor Clement em Assassinato na Casa do Pastor)

* Compreendi perfeitamente. Tirando partido do fato de que a casa estava vazia, a srta. Hartwell dera rédeas à sua curiosidade e rodeara a casa, examinando o jardim e olhando por todas as janelas para ver o máximo possível do interior.(Pastor Clement em Assassinato na Casa do Pastor)

* Minha primeira visita foi à srta. Hartwell. Devia estar espreitando pela janela, pois, antes que tivesse tempo de tocar campainha, abriu a porta da frente e, apertando minha mão com firmeza, fez-me entrar. (Pastor Clement em Assassinato na Casa do Pastor)

* — Então resolvi dar a volta à casa e.. . e bater numa janela — continuou sem corar. — Fiz a volta inteira e olhei em todas as janelas, mas não havia ninguém em casa.
(Srta. Harinell em Assassinato na Casa do Pastor)



3. Se deliciar com os escândalos.





* Houve uma pausa, enquanto as senhoras saboreavam aquela nota a mais no escândalo da aldeia. (Um Corpo na Bilbioteca)

* Miss Marple estava naturalmente entusiasmada com o assunto. Como disse apologeticamente: — Temos tão pouco de que falar no campo! — Tinha decidido que a rapariga morta devia ser exatamente como a Edith dela. (A Mão Misteriosa)

* — E sua pobre esposa?
A Srta. Hartwell procurou disfarçar seu prazer intimo e ardente.
— Realmente. Não acho que ela tenha qualquer ideia.
(Um Corpo na Bilbioteca)

*A agitação foi enorme por um instante, até que Miss Marple disse
em tom de censura, mas sorrindo: — Menina travessa!
(Assassinato na Casa do Pastor)

* É um episódio tão emocionante... como essas coisas que a gente lê nos jornais... e, tendo acontecido com alguém que a gente conhece... estou louca para ouvir a história toda, para imaginar exatamente como tudo aconteceu, a senhora entende, não?
(Miss Marple em A Mão Misteriosa)

* Estou muito preocupada, bastante excitada mentalmente, sem saber o que devo fazer. Soube de uma coisa que acho que pode ser importante.
(Sta. Wetherby em Assassinato na Casa do Pastor)



4. Saber que não vai agradar aos outros, mas não ligar a mínima para isso!


Barbara Hicks  como Miss Hartnell


* — Quem virá? (...)
— A sra. Price Ridley, a srta. Wetherby, a srta. Hartwell e a terrível Miss Marple. (...) É a que mais fala mal dos outros na aldeia — disse Griselda. — E sempre sabe de tudo o que aconteceu e tira as piores conclusões.
(Griselda em Assassinato na Casa do Pastor)

* A Srta. Wetherby é uma solteirona impertinente, de nariz comprido. (Um Corpo na biblioteca)

* A srta. Hartwell, que é uma mulher acabada, porém alegre e muito temida pelos pobres. (Assassinato na Casa do Pastor)

* — As gatas velhas do condado foram procurá-lo por causa disso? Por causa de meus costumes? Ora essa, a moral não é assunto para a Polícia. (sr. Blake em Um Corpo na Bilbioteca)

* — O que elas precisam — volveu Griselda — é de um pouco de imoralidade em suas vidas. Assim não ficariam tão ocupadas procurando isso na vida dos outros.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* A srta. Wetherby é uma mistura de vinagre e rompantes. (Assassinato na Casa do Pastor)

* – Há mulheres demais nesta parte do mundo.
(Cel. Melchet em Um Corpo na biblioteca)

* – Miss Marple é a perfeita investigadora local. Ela já nos passou a perna, uma vez, não foi? (...)
– Daquela vez era um caso local, Sir. A velha sabe de tudo que se passa na aldeia, isso é verdade.
(Um Corpo na biblioteca)



5. Dizer o que tiver que dizer, doa a quem doer.



Miriam Margolyes como Mrs Price-Ridley


* — É revoltante, em minha opinião — a srta. Hartwell prosseguiu com sua habitual falta de tato.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* — A senhorita me permitiria dar-lhe um conselho, muito embora possa parecer impertinente? — perguntou Miss Marple.
— Eu o considerarei impertinente. É melhor a senhora não dizer nada.
— Não obstante, vou dizer. Quero aconselhá-la, veementemente, a não continuar a usar seu nome de solteira na aldeia.
(Um Corpo na biblioteca)

* – Eu não devia me queixar, mas às vezes penso que se viver muito tempo mais perto de Mrs. Hartwell, vai haver um lamentável incidente. Aquela velha gata de cara azeda, sempre fofocando e reclamando. Jim também está bem cheio. Teve uma briga de primeira classe com ela ontem à noite. Apenas por que ouvimos o Messias um pouco mais alto! Você não pode fazer objeções ao Messias, pode? Quero dizer, é religioso.
— Ela objetou?
— Criou uma confusão terrível — disse Cherry. — Bateu na parede, gritou e isto e aquilo.
(A Maldição do Espelho)

* É muito difícil, com a srta. Hartwell, saber onde acaba a narrativa e começam as acusações. (Assassinato na Casa do Pastor)

* Miss Marple, ignorando essas considerações da Sra. Bantry, acrescentou:
— E, no entanto, você sabe, correm muitos boatos por aí.
(Um Corpo na biblioteca)

* — Ele era uma criancinha adorável em seu banho.
— Há uma linda fotografia do assassino de Cheviot quando criança, no jornal de domingo passado — disse Miss Marple.
(Um Corpo na biblioteca)



6. Não deixar uma pessoa escapar até ela escutar tudo o que você tem a dizer.



Geraldine MacEwan como Miss Marple


* Ao atravessar o portão, fui agarrado. A srta. Hartwell é perita em agarrar as pessoas, de uma maneira brusca e incômoda.
(Pastor Clement em Assassinato na Casa do Pastor)

* Eu queria falar com a Megan. Tinha querido falar com ela o dia todo. Apressei o passo. Mas ao chegar junto delas, a Megan virou-se e foi-se embora na outra direção. Fiquei irritado e queria ir atrás dela, mas Miss Marple bloqueou-me o caminho.
 (A Mão Misteriosa)

* A caminho de casa, encontrei a srta. Hartwell, que me prendeu pelo menos por dez minutos, reclamando com sua voz grave. (Pastor Clement em Assassinato na Casa do Pastor)


7. Usar uma boa dose de malícia ao fazer mexericos e falar mal dos outros.



Angela Lansbury como Miss Marple



* — Será que há mesmo alguma coisa entre Lawrence Redding e Lettice Protheroe? — indagou a srta. Wetherby. — Certamente parece que há.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* — Aquela que fica deitada no jardim, praticamente nua?
(Srta. Hartwell em Um Corpo na biblioteca)

* – A empregadinha da casa do Sr. Harbottle, por exemplo. Uma mocinha muito vulgar.
(Miss Marple em Um Corpo na biblioteca)

* — Essas moças são umas sonsas — lastimou a sra. Price Ridley.
— (...) Ele é um bonito rapaz.
— Mas sem moral — afirmou a srta. Hartwell. — Tem de ser. Um artista! Paris! Modelos! Nus!
— Pintar um quadro dela de maiô! — disse a sra. Price Ridley. — Não fica bem.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* Ela é uma mulher muito tola  disse ela  Gosta de se exibir. Vai apanhar ervas e coisas assim na lua cheia e tem o cuidado de fazer com que toda a gente fique sabendo.
 E as moças tontas vão consultá-la, suponho? - disse Miss Marple.
(A Mão Misteriosa)

* — É revoltante! Ele deve ser pelo menos vinte e cinco anos mais velho do que ela.
(Srta. Hartwell em Assassinato na Casa do Pastor)

* — Você conhece aquela mulher horrorosa que anda com Basil Blake? – perguntou a srta. Wetherby.
— Aquela loura de cabelos horrivelmente oxigenados? — a Srta. Hartwell estava um tanto atrasada, pois não passara ainda do oxigenado para o platinado.
(Um Corpo na biblioteca)

— Será que há mesmo alguma coisa entre Lawrence Redding e Lettice Protheroe? — indagou a srta. Wetherby. — Certamente parece que há.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* A Srta. Wetherby foi a primeira a espalhar a notícia inebriante. Entrou toda afobada na casa de sua amiga e vizinha, a Srta. Hartwell.
(Um Corpo na biblioteca)


Geraldine MacEwan como Miss Marple


* Três vozes femininas soaram ao mesmo tempo, fazendo comentários estapafúrdios sobre o passeio dos meninos do coro, o incidente lamentável na última reunião das mães e as correntezas de ar na igreja.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* — Um pouco semelhante a Jesie Golden, a filha do padeiro —acrescentou Miss Marple. — Ela treinava para ser babá e se casou com o filho do dono da casa.
(Um Corpo na biblioteca)

* Estava no portão da frente, aonde fora um minuto ou dois, diz ela que para tomar ar. Muito pouco provável, na minha opinião; o mais provável é que estivesse esperando o rapaz da peixaria, se é que se pode chamar aquilo de rapaz, um garoto atrevido, pensa que porque tem dezessete anos pode mexer com todas as moças.
(Sra. Price Ridley em Assassinato na Casa do Pastor)

* — Na época de hoje, uma moça pode ter uma ocupação da mesma maneira que um homem.
— Para vir trabalhar fora da cidade? E ficar no mesmo hotel? —retrucou a sra. Price Ridley em voz severa.
A srta. Wetherby murmurou baixinho para Miss Marple:
— E os quartos são todos no mesmo andar...
(Assassinato na Casa do Pastor)

* — Acredita mesmo que ela quer se casar com aquele careca aborrecido?
— Dizem que ele está muito bem financeiramente — observou Miss Marple.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* — Que mulher ruim! — exclamou a srta. Hartwell com justa raiva.
— Infelizmente, era muito devassa.
— E o Coronel Bantry... parecia um homem tão quieto...
— Os quietos muitas vezes são os piores, assim afirma Jane Marple — disse a Srta. Wetherby picantemente.
(Um Corpo na Bibioteca)


Ita Ever como Miss Marple



* — Se aconteceu alguma coisa? — a Sra. Price Ridley repetiu a pergunta dramaticamente. — Um escândalo horroroso! Ninguém poderia imaginar isso. Uma mulher devassa, completamente despida, estrangulada na casa do Coronel Bantry.
(Um Corpo na biblioteca)

* — Oh, minha querida! — disse Miss Marple. — Acho que os casados são os piores. Lembre-se da pobre Mollie Carter.
— Homens casados que vivem separados de suas esposas são, é claro, desacreditados — afirmou a srta. Wetherby.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* E que barulho ele fez por causa do namoro de sua filha com o jovem Bailey! No final das contas, era a sirigaita da mulher dele.
(Miss Marple em Assassinato na Casa do Pastor)

* A srta. Wetherby comentou rispidamente: — Nenhuma moça direita faria isso.
— Faria o quê? — perguntei.
— Ser secretária de um homem solteiro — esclareceu a srta. Wetherby com uma voz horrorizada.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* — Sempre o julguei muito burro — volveu Miss Marple. — Esse tipo de homem que, quando põe uma ideia na cabeça, ninguém consegue convencer de outra coisa.
(Assassinato na Casa do Pastor)



8. Manter informantes em todos os lugares possíveis – e em alguns impossíveis também!


Mary Whithacker como Mrs. Wetherby


* — Vamos dizer que foi um passarinho que me contou. Isso é seguro, não é? (...) — Bem, esse passarinho me contou que viu uma certa senhora, cujo nome não posso dizer.
(Assassinato na Casa do Pastor)

* A Sra. Price Ridley estava entre as últimas a saber da notícia. (...) Sua informante foi sua empregadinha Clara.
— Você disse uma mulher, Clara? Encontrada morta no tapete do Coronel Bantry?
— Sim. E dizem que estava completamente nua, sabe, nuazinha.
(Um Corpo na biblioteca)

* Como estava dizendo, minha empregada Clara estava no portão e ouviu um espirro. (...) — Ouviu um espirro no dia do assassinato, numa hora em que não havia ninguém em sua casa.
(Sra. Price Ridley em Assassinato na Casa do Pastor)

* Discou numa rápida sucessão para a casa paroquial, para a Sra. Price Ridley, para Miss Hartwell, Miss Wetherby e, em último recurso, para o peixeiro que, em virtude de sua vantajosa situação geográfica, sabia geralmente onde se encontrava todo mundo na aldeia.
(Um Corpo na biblioteca)

* O velho Ashe fez uma pausa, recuperou o fôlego, e continuou:
— O Jim Huggins garantiu que a srta. Blacklock não guarda muito dinheiro em casa; ele deve saber, porque é a mulher dele que vai lá todo dia arrumar a casa, e aquela velha sabe de tudo que acontece por perto dela. Abelhuda, sabe como é?
(Convite para um Homicídio)

* — É preciso que o senhor compreenda que ouvi isso de fonte segura.
Em St. Mary Mead a fonte segura é sempre a empregada de alguém.
(Assassinato na Casa do Pastor)

E isso é uma grande verdade — disse Miss Marple. — É impressionante a rapidez com que as notícias correm. Em parte são os empregados, mas não pode ser apenas isso; temos tão poucos empregados hoje em dia. Mas há essas mulheres que trabalham por hora, e até que devem ser piores, porque vão de casa em casa, espalhando as novidades.
(Convite para um Homicídio)



9. Reclamar do progresso e dos novos tempos.


Julia Mackenzie como Miss Marple


* E é você mesma que deve pegar a cesta e andar por ali procurando as coisas. Às vezes gasta-se quinze minutos para encontrar tudo que se quer, e é tudo empacotado em tamanhos inconvenientes, muito pouco ou em excesso. E então se tem que esperar para pagar em uma longa fila quando se vai embora. Muito cansativo.
(Maldição do Espelho)

É um outro sinal dos tempos — disse Miss Marple. — Hoje, é muito comum a gente não conhecer os parentes mais jovens. Antigamente, quando havia reuniões de família, isso seria impossível.
(Convite para um Homicídio)

* — Montes de coisas de que ninguém nunca ouviu falar — exclamava A srta. Hartwell. — Todos aqueles enormes pacotes de cereais, em vez de se cozinhar para uma criança uma refeição apropriada de  toucinho e ovos.
(A Maldição do Espelho)

* Sempre achei esses médicos jovens muito novidadeiros. Fazem a gente arrancar todos os dentes, tomar uma porção de remédios estranhos e acabam por nos tirar as tripas, antes de confessar que não sabem o que a gente tem. Eu prefiro os remédios antiquados, naqueles vidros escuros de farmácia. Afinal, esses sempre se podem derramar na pia.
(Miss Marple em Convite para um Homicídio)



10. Insistir no que quer, pouco importa se está amolando os outros.


Margaret Tutherford como Miss Marple


* — Senhoras de idade são muitos cacetes — afirmou a sra. Lestrange. — Especialmente a srta. Hartwell. Deve ter tocado a campainha pelo menos meia dúzia de vezes antes de desistir.
(Sra. Lestrange em Assassinato na Casa do Pastor)

* — Bati na porta e toquei a campainha — explicou. —Duas vezes. Talvez mais. E me ocorreu de repente que talvez a campainha não estivesse funcionando.
(Srta. Hartwell em Assassinato na Casa do Pastor)



11. Ajudar os pobres, mesmo que eles não queiram.


Rosalie Crutchley como Mrs Price-Ridley


* E quatro dos meus paroquianos mais pobres declararam revolta aberta contra a srta. Hartwell, que veio se queixar mim, furiosa. (Pastor Clement em Assassinato na Casa do Pastor)

* A Srta. Hartwell tinha um timbre de voz muito baixo e visitava os pobres infatigavelmente, por mais que eles procurassem evitar seus auxílios.
(Um Corpo na biblioteca)

* A caminho de casa, encontrei a srta. Hartwell, que reclamava com sua voz grave contra a improvidência e ingratidão das classes baixas. Parecia que o xis da questão era que os pobres não queriam a srta. Hartwell em sua casa. Meus sentimentos estavam todos com eles.
(Pastor Clement em Assassinato na Casa do Pastor)

* A srta. Hartwell, que é uma mulher acabada, porém alegre e muito temida pelos pobres...
(Pastor Clement em Assassinato na Casa do Pastor)



12. Considerar-se um exemplo de virtude e bons modos cristãos – ainda que não seja bem assim...


Julia Mackenzie como Miss Marple



* A srta. Hartwell ficou ainda mais vermelha. Se não fosse uma pessoa tão agressiva, diria que estava encabulada.
(Pastor Clement em Assassinato na Casa do Pastor)

* — Não queria enfiar meu cartão pela abertura das cartas. Não seria delicado, e eu posso ser muita coisa, mas nunca fui grosseira. – Ela fez essa espantosa declaração sem pestanejar.
(Srta. Hartwell em Assassinato na Casa do Pastor)