ADEUS, AGATHA.
E FECHE A PORTA ANTES DE SAIR
Nos dias de hoje, “onde, em uma sociedade de tantas e vastas
escolhas, poderá haver um lugar para Agatha Christie?”
Esta é a pergunta que William Friend, jornalista e crítico,
faz em seu artigo intitulado: Que
descansem em paz, obras de Agatha Christie.
Mas será mesmo?!
Traçando um paralelo entre a escritora e os tempos atuais, o
autor analisa a relevância de sua obra diante da avalanche de possibilidades
que a era contemporânea nos oferece.
É um texto bem instigante! E, calma: no final, tudo se resolve... Se você é fã de Agatha Christie, então este é um artigo vale
a pena ser lido!
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Que
descansem em paz, obras de Agatha Christie
William Friend
Irrelevante. Antigo. Morto.
Estes são apenas alguns adjetivos os quais o artigo que se segue irá utilizar para definir as obras de Agatha Christie. Eles podem fazer seu sangue ferver temporariamente – mas espero que você seja fan o suficiente para ficar escandalizado diante do fato de alguém ter a audácia de escrever algo assim, e que avance na leitura para que o artigo possa se explicar.
“Ela verdadeiramente mereceu o título de Rainha não
oficial do Crime.”
Em 1920, The Mysterious Affair at Styles foi
publicado e o gênero do crime nunca mais foi o mesmo. Com a introdução sem o
menor esforço de padrões literários aos quais hoje nos referimos como “clichés”
e com a adição à literatura britânica de
alguns dos melhores mistérios já escritos, Agatha Christie, ninguém pode negar,
verdadeiramente mereceu o título de Rainha não oficial do Crime.
Mas, infelizmente, seu reinado está agora chegando ao fim. Os tempos estão mudando – na verdade, eles já mudaram.
Mas, infelizmente, seu reinado está agora chegando ao fim. Os tempos estão mudando – na verdade, eles já mudaram.
Longe se vão os dias quando as pessoas liam por prazer, para escapar, para imaginar.
“Onde, em uma sociedade com tão vastas
escolhas, pode possivelmente haver um lugar para Agatha Christie?”
Bem-vindo ao século 21: uma
era maçante, cinzenta, na qual as pessoas são monossilábicas, os livros são geralmente
considerados como contendo palavras demais para valer a pena serem atualizados,
e a autobiografia de David Beckham é considerada pelas massas como uma “leitura desafiadora" (apenas preste
a atenção na palavra de sete letras!).
Os livros, hoje em dia, são apenas um dos muitos, muitos meios que fornecem nosso entretenimento.
Então, onde, em uma sociedade com tão vasta escolha, pode possivelmente haver um lugar para Agatha Christie? O escritor de mistério, o contador de histórias curiosas, ambientadas em aldeias inglesas sonolentas, onde quase nada acontece, até que, é claro, um morador aparentemente normal enlouquece e mata alguem com sucesso, aparentemente, sem ter tido qualquer motivo para cometer o assassinato.
Histórias de “pessoas de classe alta”, que perdem a
cabeça com tal discrição e tranquilidade que só pode ser percebido pelo pequeno
e peculiar detetive que se senta sozinho
no canto e em quem ninguém realmente
prestou muita atenção. Onde está a relevância disso?
“Não se esqueça de fechar a porta do teatro
assim que sair do gênero do crime para sempre.”
A Senhora Christie poderia
ter sido um gênio, mas ela é uma pessoa que muito bem e verdadeiramente teve os
seus dias. “Adeus, Agatha", é hora de dizer tragicamente, soprando a
poeira de seus livros, “e não se esqueça de fechar as portas do teatro, assim
que sair do gênero crime para sempre.”
Ok, isso é um pouco sombrio. Mas, talvez, parte de você pode ver aonde eu quero chegar: a literatura policial do século 20 é considerada agora algo dócil.
Ok, isso é um pouco sombrio. Mas, talvez, parte de você pode ver aonde eu quero chegar: a literatura policial do século 20 é considerada agora algo dócil.
Por outro lado, o drama criminal moderno – bem, isso é algo totalmente diferente! Certamente é só nos dias atuais que podemos encontrar enredos que valham a pena acompanhar. Histórias que são sucintas, sensacionais e gratificantes, com personagens atuais e emocionantes com quem podemos nos conectar! Sr. X, um defensor endurecido de sangue, violência e provocar a consciência do público para "as duras realidades da vida" e "os horrores do mundo em que vivemos", certamente pensa assim. Na verdade, ele é um da “nova geração” que só lê informações digitais e acha que My Side, do Sr. Beckham é um livro “muito bacana”.
“Christie, Bobagem!”
“Christie, Bobagem!” ele ri,
olhando para o Sr. Y com reprovação e achando-o de mentalidade estreita
irritante. “Afinal de contas, com um balde cheio de tiros gráficos mortais,
revelações sexuais sórdidas, aplicações complexas de evoluções forenses
obscuras cobertas com uma pitada de injustiças na sala de tribunal que vão
fazer com que você perca toda a fé na lei, o que há para não gostar sobre
moderno drama criminal?”
"Muita coisa." – responde
o Sr. Y, mostrando sua cópia de E Não Sobrou Nenhum – “E isso é apenas
a ponta do iceberg."
“A única coisa morta nos livros de Agatha Christie são
suas vítimas.”
Não me desagrada o drama
policial moderno, na verdade gosto muito dele – mas eu não acho que é perfeito
também. Da mesma forma, enquanto é minha humilde opinião que os livros de
Christie têm sua parcela de falhas, eu ainda os considero uma alegria absoluta
de se ler.
Mais ainda, eu considero meu dever pessoal, devido a todo o prazer que
eles me proporcionaram, espalhar essa opinião amplamente e de forma o mais enfática
o possível. Para que, enquanto as pessoas escolham seus livros para ler, a
única coisa "morta" neles sejam as vítimas.
“A maldade da natureza humana é algo que
nunca vai mudar.”
Os fãs de hoje ainda conseguem se relacionar com os personagens (tão reais e tão atuais como sempre foram, porque – vamos encarar os fatos – a maldade da natureza humana é algo que nunca vai mudar).
Eles ainda podem meditar
sobre as questões (sejam elas vingança, rerenção ou simplesmente justiça – uma
idéia a qual Christie levou muito a sério, na verdade) e eles ainda podem, oitenta
anos depois, ser cativados por aquele caso muito misterioso em Styles ...
“Porque sim: Agatha Christie fez certo.”
Por quê? Porque, sim:
Agatha Christie fez certo. Seus enredos foram engenhosos e cheios de
imaginação; ainda tão sensacionais como o horror do drama criminal de hoje,
apenas de uma forma muito mais modesta.
Mas ela fez mais do que
isso, como meu parágrafo de abertura observou. Ela moldou o gênero com seu
trabalho, cuja influência ainda pode ser vista em nossas telas de hoje. Com as
reviravoltas de cair o queixo, revelações de choque e detetives peculiares, sua
literatura permanece exatamente como sempre foi:
Relevante. Moderna. Viva.
5 de janeiro de 2009
Relevante. Moderna. Viva.
5 de janeiro de 2009
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Link: http://www.agathachristie.com/about-christie/expert-fans-on-christie/the-works-of-christie-rip/
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