"Era
impensável ser enxergado entrando ou saindo de um banheiro!"
Agatha Christie na Autobiografia
No
trecho a seguir da Autobiografia, Agatha Christie nos narra um episódio divertido
de sua infância que envolve a questão do uso do banheiro nos idos do século
XIX:
Meu padrinho, Lorde Lifford, era boa alma e pessoa alegre. Chamava-se
então capitão Hewitt. Veio um dia a nossa casa e, ouvindo dizer que o sr. e a
sra. Miller haviam saído, comentou risonho: “Oh! Não faz mal. Vou esperar por
eles”, e tentou entrar em casa, contra a vontade da empregada.
Contudo, esta, que era conscienciosa, fechou-lhe a porta na cara
e correu pela escada acima para falar com ele pela janela do banheiro, mais convenientemente
situada para esse efeito.
Finalmente, ele a convenceu de que era um amigo da família,
provando isso com o conhecimento que demonstrou ter da casa: “E sei muito bem
de que janela você está falando: é
a janela do
banheiro”. Essa prova topográfica venceu-a, e ela o deixou entrar, embora
depois fugisse, envergonhada pelo fato de lhe ter falado da janela do banheiro.
Nesses tempos, era melindroso falar a respeito de banheiros.
Era impensável ser enxergado entrando ou saindo de um banheiro, exceto por
membro íntimo da família: coisa muito difícil em nossa casa, porque o banheiro
ficava a meio das escadas e bem à vista de quem estava no vestíbulo.
O pior, é claro, era estar dentro do banheiro e começar a
ouvir vozes lá embaixo, no hall. Impossível sair! Havia
que aguentar emparedada, até que aquelas paragens ficassem livres!
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típico banheiro victoriano campestre |
Ao
pesquisar sobre esses tais hábitos e melindres acerca do uso do banheiro na Era Vitoriana, acabei por me deparar com três fatos bem curiosos, os quais
compartilho:
OH, CRAP!
O 1º
é sobre a gíria crap, da expressão Oh crap! - típica
norte-americana, que seria semelhante, em português, para ser bem educada, à expressão: Que bosta!
Sabe qual é a origem dela? Em 1891, um inventor e empresário da época patenteou a válvula e o sifão utilizados nas caixas de água dos vasos sanitários de então, os quais sua empresa produzia. O nome do empresário era Thomas Crapper, e os vasos sanitários possuíam o nome de sua empresa gravados neles: T. Crapper, Brass and Co. Durante a 1ª guerra mundial, os soldados norte-americanos lendo o nome pintado bem acima das privadas, foi só uma questão de tempo para cunharem a gíria crap.
QUE TAL UM VESTIDO OU UM PAPEL
DE PAREDE FEITO DE
ARSÊNICO?
Na era vitoriana, havia um determinado tom de verde que se tornou bastante popular. Papeis de parede e até mesmo vestidos foram feitos nesta cor. O problema é que o pigmento era obtido através do uso de arsênico. A substancia altamente tóxica apareceu por volta de 1850, mas até então, não se sabia que ela era letal ao ser humano.
Mulheres adoeciam quando usavam os vestidos na cor da moda, e homens e crianças passavam mal depois de usarem ao banheiro, cujas paredes eram forradas com papeis de parede à base de arsênico.
vestido do séc. XIX em tecido tingido à base de arsênico |
Quando
se descobriu o caráter altamente venenoso da substância, a qual poderia matar
uma pessoa por simplesmente entrar em contato com ela, muitas empresas, nos
anos de 1870, tiveram que fazer propaganda de seus produtos de papel de parede
ou de tecidos avisando que não continham arsênico, tamanho foi o medo da
população de morrer por usar uma roupa ou lavar as mãos na pia do banheiro.
charge do séc. XIX devido ao uso popular de arsênico como tinta |
A
Valsa de Arsênico – até que dava um bom título para uma história de mistério -
uma charge de uma caveira tirando uma dama para dançar, assustava a todos, já
que muitas mulheres morreram subitamente, e somente tempos depois descobriu-se
que foi por causa do vestido que usaram, com tecido de arsênico.
Hoje
em dia, a palavra arsênico é
utilizada para definir justamente esse tom de verde em especial: o verde arsênico.
SUA MAJESTADE, A BANHEIRA!
Nenhum
outro aspecto é mais característico dos banheiros da Era Vitoriana do que a
banheira de cuba e pés arredondadas, estes últimos, salientes e semelhantes a
garras, e, é claro, ricamente ornados. A localização da banheira também era um
fator importante: deveria ser posicionada de modo que a pessoa, mergulhada em
bolhas de espuma perfumada, poderia avistar a paisagem pela janela, porém, não perto
demais para não receber uma corrente de ar repentina.
A implementação
dos sistemas hidráulicos clamaram por torneiras igualmente ricamente ornadas, de
bronze ou revestidas com pinturas douradas, combinando com as torneiras das
pias. Ladrilhos em cores fortes, como o verde musgo, mostarda, azul cobalto,
cobriam as paredes ao redor da banheira, para o caso de respingos d’água. O restante
das paredes do banheiro eram tradicionalmente forradas com papel de parede.
Móveis
pesados, onde se guardavam as toalhas, roupões, sabonetes, espumas e óleos de
banho, costumavam ter tampões de mármore e puxadores combinando com as
torneiras. E, é claro, a bacia e a jarra de louça finamente ornada sobre a
cômoda era um clássico!
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