AGATHA CHRISTIE: A RAINHA DOS
VENENOS
(parte 2)
- O
enredo do romance - continuei - gira em torno da possibilidade de existir um
veneno raríssimo, talvez proveniente da América do Sul, de modo que ninguém o
descubra; uma substância venenosa com a qual os selvagens comumente envenenam
as flechas. A morte é instantânea e toda a nossa ciência europeia é impotente
para desvendar-lhe o mistério.
(O Assassinato de Roger Ackroyd)
Agatha Christie ficou
mundialmente conhecida não apenas pelas tramas engenhosas em seus livros de
crime e mistério, mas também pela preferência no uso de venenos como método de
assassinato. E essa escolha não foi por acaso: seu ofício durante a guerra em
um dispensário médico lhe rendeu o conhecimento necessário para se tornar uma
mestra no uso de venenos e substancias fatais em sua obra.
Os assassinos de
Agatha são, em geral, pessoas comuns, ainda que de diferentes classes sociais,
e conseguem obter os venenos de forma trivial, seja através do trabalho que
exercem, seja em baixo da pia da cozinha, no armário do banheiro ou no jardim. Mesmo
assim, a criatividade da autora não a impediu de lançar mão de métodos raros de
envenenamento, assim como de situações inusitadas ou muito criativas para
liquidar suas vítimas.
Nesta parte 2 mostro
duas coisas:
1º, algumas das substâncias fatais que Agatha utilizou, mas que são raros ou incomuns como arma de assassinato.
2º, a criatividade da escritora ao criar formas de envenenamentos inusitadas – sejam pelo veneno em si, sejam pelo modo como foram utilizados.
Parte 4 – As plantas perigosamente venenosas e a polêmica dos venenos que teriam sido inventados por Agatha Christie:
http://agathachristieobraeautora.blogspot.com/2016/05/curiosidades-o-jardim-de-venenos-de.html
Parte 5 – O demais venenos utilizados por Agatha Christie e as histórias em que o veneno não foi informado:
http://agathachristieobraeautora.blogspot.com/2016/05/livros-entrelinhas-o-fascinante-e.html
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1º, algumas das substâncias fatais que Agatha utilizou, mas que são raros ou incomuns como arma de assassinato.
2º, a criatividade da escritora ao criar formas de envenenamentos inusitadas – sejam pelo veneno em si, sejam pelo modo como foram utilizados.
Na 1º parte da série Agatha Christie: Rainha dos Venenos, apresentei:
Parte 1 – Os TOP 5
venenos mais utilizados por Agatha Christie:
http://agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2016/04/livros-entrelinhas-os-top-5-venenos.html
Parte 3 – Os medicamentos que podem ser mortais:
http://agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2016/04/livros-entrelinhas-os-top-5-venenos.html
Parte 3 – Os medicamentos que podem ser mortais:
Parte 4 – As plantas perigosamente venenosas e a polêmica dos venenos que teriam sido inventados por Agatha Christie:
http://agathachristieobraeautora.blogspot.com/2016/05/curiosidades-o-jardim-de-venenos-de.html
Parte 5 – O demais venenos utilizados por Agatha Christie e as histórias em que o veneno não foi informado:
http://agathachristieobraeautora.blogspot.com/2016/05/livros-entrelinhas-o-fascinante-e.html
VENENOS INUSITADOS
PEÇONHA DE
COBRA
cobra boomslang ou cobra-das-árvores |
Segundo
minha análise, a seta tinha sido recentemente embebida na PEÇONHA da Dispholidus Typus, mais conhecida
como BOOMSLANG OU COBRA DAS
ÁRVORES.
—
Uma boomslang? O que vem a ser
isso?
— É
uma cobra sul-africana das mais mortíferas e venenosas que existem. Seu efeito
sobre o ser humano é desconhecido, mas pode-se fazer a ideia da intensa
virulência da peçonha quando se sabe que ao injetá-la numa hiena, o animal
morre antes de se retirar a agulha.
(Morte nas Nuvens)
Imagine
só o trabalhão que dá envenenar uma pessoa com a peçonha de um ofídico? Bem, não
para alguém que trabalhe com serpentes ou em alguma área que lide com seus
venenos. Mesmo assim, em se tratando de uma história que se passa entre a
Inglaterra e a França, como é o caso de Morte
nas Nuvens, é bem inusitado o uso de peçonha como envenenamento, ao contrário
do que seria em uma aventura em qualquer região que seja habitat de serpentes. A
boomslang ou cobra-das-árvores (Dispholidus_typus) pode medir de
1m a 1,60m e é típica da região do Saara, na África.
NENHUM VENENO: APENAS SUGESTIONAMENTO
Gerald
Martin apontou o dedo trêmulo para ela:
- O
café! Meu Deus, o café!
Ela
olhou para ele.
- Agora
entendo porque tinha um gosto estranho. Seu demônio! Você colocou veneno em meu
café! (...) Você me envenenou!
Suas
mãos se agarraram aos braços da cadeira. Ele estava pronto para saltar sobre
ela. Alix abriu a boca para negar, mas depois parou. Mais um minuto e ele
pularia sobre ela. Então ela olhou fixamente para ele.
- Sim –
ela disse. – Eu o envenenei. O veneno já está fazendo efeito. Nesse momento
você não consegue se levantar da cadeira – você não consegue se levantar!
Ah, se
ela conseguisse mantê-lo na cadeira por só mais um minuto!
(Conto: Philomel Cottage)
No conto Philomel
Cottage, Alix
precisava escapar de Gerald Martin, e para tanto, se aproveitou da própria confusão
que ele fez, achando que fora envenenado por ela com o café. Muito criativo da
parte de Agatha Christie, pois na verdade, não houve envenenamento algum – apenas
o poder de sugestionamento da personagem ou de autosugestionamento da vítima.
GÁS DE FOGÃO CASEIRO
-
Pensou, também, que podia ser alguém que quisesse fazer chantagem, pretendendo
que meu marido estivesse vivo. - Parou um instante e depois prosseguiu. -
Poucos dias depois da chegada da segunda carta, escapamos por um triz de morrer
asfixiados. Alguém entrou em nosso apartamento enquanto dormíamos e ABRIU O GÁS.
Felizmente eu acordei e senti o cheiro a tempo. Então perdi a cabeça.
(Morte na Mesopotâmia)
O gás não é uma forma rara de
envenenamento. Trancar a vitima em um cômodo com o gás aberto é até um método
bem comum – e eu diria até bem mais fácil. Mas o interessante aqui é que se
trata da única vez que Agatha Christie lançou mão dessa forma de envenenamento.
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VENENOS INCOMUNS PARA
ASSASSINATOS
TÁLIO
pedra de tálio |
— Ouça
— perguntei — o cabelo de Ginger está caindo?
—
Está. Deve ser por causa da febre alta!
—
Febre alta, uma ova! Ginger, como todos os outros, está sofrendo de
envenenamento por TÁLIO. Deus queira que ainda possamos salvá-la.
(O Cavalo Amarelo)
O tálio
passou para a nossa história como o veneno incomum mais famoso utilizado por
Agatha Christie. Motivo: a trama de O
Cavalo Amarelo, onde o tálio aparece, ajudou a polícia inglesa em 1971 a
desvendar um misterioso caso real de assassinato e a prender o culpado. Veja os
detalhes dessa incrível contribuição de Agatha Christie para a sociedade no
artigo desta blogazine:
Trata-se
de um metal, um elemento químico de símbolo TI, número atômico 81, altamente
tóxico e encontrado em estado sólido na temperatura ambiente. O tálio pode ser
absorvido através da pele, ingerido ou inalado, o que faz dele extremamente
perigoso. A pessoa morre de ataque cardíaco em 3 semanas de exposição ao veneno,
após vômitos, diarreia e perda de cabelo.
NICOTINA
Sir
Charles lê a noticia de jornal:
No
inquérito a respeito da morte de Sir Bartholomew Strange foi
dado
um veredicto de “morte por envenenamento com NICOTINA”, não tendo sido
determinado como ou por quem foi ministrado o veneno.
(Tragédia em Três Atos)
O que
muitos não sabem é que, se ingerida ou absorvida pela pele em sua forma pura, a
nicotina é fatal e mata em poucos minutos, produzindo uma parada cardíaca. Foi
utilizada em Tragédia em Três Atos, e mesmo na história a polícia admitia que se
tratava de uma forma incomum de assassinato.
TAXINA
árvore de teixo inglês |
— Foi
envenenado?
— Sem
a menor sombra de dúvida. E tem mais... isso também em caráter extraoficial,
compreende?... apenas cá entre nós... eu seria capaz de apostar como sei qual
foi o veneno.
— É
mesmo?
— TAXINA,
rapaz. Taxina.
— Taxina?
Nunca ouvi falar.
— Pois
é. Totalmente fora do comum.
(Cem Gramas de Centeio)
De
gosto amargo, a taxina é um alcaloide extraído de várias partes da árvore
denominada teixo inglês – cujo nome cientifico é taxus baccata –, especialmente
das folhas, e quando ingerida a morte é rápida. O interessante é que o teixo é
largamente utilizado como planta ornamental ou como cerca viva por todo o Reino
Unido.
Foi
utilizada em Cem Gramas de Centeio
FÓSFORO
E vou
adiante: “Uma vez notada a icterícia, a pessoa envenenada não apenas sofre a
ação tóxica do fósforo, como também de todos os sintomas da retenção de bílis
no sangue. Assim, não se verifica qualquer diferença especial entre
envenenamento por FÓSFORO e certas afecções do fígado, como a atrofia amarela.”
Vê a inteligência disto? A Srta. Arundell havia anos sofria do fígado. Os
sintomas do envenenamento
pareceriam outra crise da mesma doença...
(Poirot em:
Poirot Perde uma Cliente)
Agatha Christie foi
bastante criativa em Poirot Perde uma
Cliente para utilizar o fósforo como elemento que envenena a vítima,
fazendo que ela tivesse uma aura encantada ao seu redor e expirasse ar
brilhante, ou seja, fosforescente – tudo resultado do envenenamento. Os
primeiros trabalhadores de fábrica de fósforos utilizados para ascender, o
fósforo branco, sofriam de problemas nas juntas e danos severos ao fígado como
consequência à exposição ao elemento químico de símbolo P, número atômico 15.
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