quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PERSONAGENS que também AMAMOS- ARIADNE CONTA TUDO (parte 3) sobre PESSOAS





Zoe Wannamaker como Mrs. Ariadne Oliver


Alguns suspeitam, outros têm certeza: Mrs. Ariadne Oliver, personagem criada por Agatha Christie, seria de fato uma versão autobiográfica da própria Agatha. 


Coincidências não faltam: ambas são escritoras de sucesso de romances policiais, ambas adoram maçãs, ambas até possuem um personagem – um famoso detective, que é venerado pelos fãs, mas que elas, suas criadoras, simplesmente odeiam. (Veja mais detalhes sobre essas coincidências no artigo: Mrs. Oliver seria a própria Agatha Christie?  (http://agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2013/07/quarta-e-dia-de-last-but-not-least.html )


Acredita-se que Agatha Christie se utilizava da voz de Mrs. Oliver para expressar suas ideias sobre os mais variados assuntos.


Através da série Ariadne conta tudo, eu venho apresentando excertos dos livros nos quais Mrs. Oliver aparece e manifesta alguma opinião interessante – às vezes até polêmica – a qual, muito provavelmente, era na verdade o que pensava Agatha Christie.


Nos artigos anteriores:

parte 1 - sobre A ARTE DE ESCREVER e A CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS
 http://agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2014/09/o-metodo-christie-as-confissoes-veladas.html 

 parte 2 - sobre ASSASSINATOS, ASSASSINOS e suas VÍTIMAS
http://agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2015/02/o-metodo-christie-o-que-possivelmente.html 


Neste 3º artigo, vejamos o que Ariadne Oliver tem a nos revelar como indícios das ideias da Rainha do Crime acerca de diferentes pessoas que povoam o universo de uma escritora: pessoas comuns, fãs, editores e adaptadores de seus livros.


 
Zoe Wannamaker como Mrs. Ariadne Oliver



PESSOAS COMUNS

  
"Os homens sabem tomar conta de si mesmos e, nesse caso, eu não teria me importado tanto."

"Acho as árvores muito mais simpáticas do que as pessoas, muito mais repousantes."

"As pessoas são tão estúpidas."

"São todas de modo geral simpáticas, mas quem sabe?"



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Não consigo imaginar por que escolhi a mulher iugoslava de um Cientista Atômico para ser a vítima! - disse a Sra. Oliver, passando as mãos pelo sofisticado penteado de maneira tão frenética que parecia estar ligeiramente bêbada.

Foi uma completa imbecilidade minha. Poderia muito bem ter sido o segundo jardineiro, que não era o que parecia e isso seria bem menos complicado porque, afinal de contas, na maioria, os homens sabem tomar conta de si mesmos e, nesse caso, eu não teria me importado tanto.


(A Extravagância do morto) 




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— Adoro as pessoas, você não gosta? — disse Robin com alegria.

— Não — disse a Sra. Oliver com firmeza.

— Mas você devia gostar. Com todas as pessoas que põe em seus livros.

— E diferente. Acho as árvores muito mais simpáticas do que as pessoas, muito mais repousantes.


(A Morte da Senhora McGinty) 




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Onde pretendia que fosse?

Naquela engraçada casinha metida no meio dos rododendros, perto da casa. Achei que aquele era exatamente o lugar. Mas então alguém, não consigo lembrar com precisão quem, começou a insistir que deveria ser encontrado na Extravagância. Bom, isso, naturalmente, era uma idéia absurda! Quero dizer, qualquer pessoa poderia caminhar até ali, casualmente, e achá-lo, sem ter seguido uma única pista. As pessoas são tão estúpidas. Claro que eu não poderia concordar com isso.


 (A Extravagância do Morto)




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Tirando furtivamente seus sapatos e mastigando ainda tranquilamente sua maçã, a Sra. Oliver reclinou-se mais uma vez no sofá, observando criticamente a sala cheia de gente. Pensava em seu espírito criador. “Se eu tivesse de escrever um livro com todas essas personagens, como me sairia? São todas de modo geral simpáticas, mas quem sabe?“De certo modo”, pensava, “era um tanto fascinante não saber nada a respeito delas.”


(Noite das Bruxas)






AH, OS FÃS...




 "Vêm dizer coisas — que adoraram meus livros, que estavam loucas de vontade de me conhecer — eu fico logo encabulada, sentindo-me tão boba."


 "Não posso imaginar por que as pessoas se interessam tanto em ouvir os autores falarem a respeito de escrever. Eu deveria ter pensado que o negócio do escritor é escrever e não falar."




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Há as pessoas que me vêm dizer coisas — que adoraram meus livros, que estavam loucas de vontade de me conhecer — eu fico logo encabulada, sentindo-me tão boba...


(A Terceira Moça)




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É esplêndido que tenha me telefonado  disse.  Eu estava saindo para fazer uma palestra sobre como escrevo meus livros. Agora posso mandar minha secretária ligar e dizer que estou presa por um compromisso inadiável.

Mas Madame, não deve deixar que eu impeça...

Não é caso de impedir - disse a Sra. Oliver alegremente. Eu iria bancar uma completa idiota. [...] Não posso imaginar por que as pessoas se interessam tanto em ouvir os autores falarem a respeito de escrever. Eu deveria ter pensado que o negócio do escritor é escrever e não falar.


(A Extravagância do Morto)





EDITORES



 
Zoe Wannamaker como Mrs. Ariadne Oliver




"Não acredito que o senhor saiba se alguma coisa que eu escrevo é boa ou ruim." 



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A Sra. Oliver andava de um lado para outro, em sua sala de estar. Estava agitadíssima. Uma hora antes, tinha empacotado um maço de provas que acabara de corrigir. Tinha de mandá-las para o seu editor, que as esperava ansiosamente, já tendo reclamado mais de uma vez pela demora.

— Aí está — disse a Sra. Oliver, como se, por um passe de mágica, o editor tivesse repentinamente aparecido à sua frente.

— Aí está, e espero que goste! Eu não gosto. Acho uma porcaria! Não acredito que o senhor saiba se alguma coisa que eu escrevo é boa ou ruim. De qualquer maneira, eu lhe avisei. Eu lhe disse que era horrível. O senhor disse que "não, impossível, impossível". — Agora, espere só, e verá — continuou ela, com um tom vingativo. — Espere, e verá. 


(A Terceira Moça)





ADAPTADORES DOS LIVROS




"Todos dizem que ele é muito inteligente. Se ele é tão inteligente, não vejo por que não possa escrever a sua própria peça de teatro e deixar o meu pobre e infortunado finlandês em paz."



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—Um livro meu está sendo dramatizado — por Robin Upward. Nós deveríamos chegar a uma idéia sobre ele.

— Meus parabéns, Madame.

— Não é nada do que está pensando — disse a Sra. Oliver. — Até agora foi uma mera agonia. Eu não sei por que fui me deixar levar. [...] O senhor não tem ideia da agonia de ter os seus

personagens obrigados a dizerem coisas que eles nunca teriam dito e fazerem coisas que eles nunca teriam feito. E, se você protesta, tudo o que eles dizem é que é “bom teatro”. É isto que pensa Robin Upward. Todos dizem que ele é muito inteligente. Se ele é tão inteligente, não vejo por que não possa escrever a sua própria peça de teatro e deixar o meu pobre e infortunado finlandês em paz.
 

(A Morte da Senhora McGinty) 




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