quinta-feira, 27 de junho de 2013

LIVROS & ENTRELINHAS - Assassinato e Sutileza


Para matar como uma dama



O desenho-caricatura de Agatha Christie que escolhi para ser a foto oficial do blog além de ser divertido, mostrando a escritora com sua inseparável máquina de escrever, resume bem universo de suas obras: o crime de assassinato, o veneno e a adaga.



Digno da dama que era, Agatha Christie nutria uma certa aversão a poças de sangue, pedaços de membros arroxeados separados de seus respectivos corpos, esqueletos putrefatos, olhos esbugalhados e vidrados, bem como torturas agonizantes de toda sorte. Não, nada que se aproxime do macabro pertence ao mundo criado por Agatha Christie.

 A forma como narrava os acontecimentos funestos em suas obras pode muito bem ser descrita como sóbria, sutil, clean, ou mesmo cool, como preferem os mais moderninhos. Nada escandaloso ou vulgar. Tudo em perfeita coerência com algo que foi produzido por uma Lady. Consequentemente, seus métodos favoritos de assassinato eram igualmente elegantes, breves, eficazes. Quanto menos alarde e sofrimento, melhor. E quanto mais rápido também, para que possamos passar imediatamente para o mistério e a investigação, que são, ao final de contas, o que realmente nos interessa!  

Abaixo, reproduzo a lista dos seus métodos favoritos de assassinato em ordem de preferência, conforme seu site oficial (link acima, em páginas):

1º. veneno

 
2º. tiro com arma de fogo



3º. corte ou perfuração letal com objeto pontiagudo
4º. queda de uma altura fatal
5º. golpe certeiro na cabeça

6º. enforcamento ou sufocação









quarta-feira, 26 de junho de 2013

LIVROS & ENTRELINHAS - Um só livro, muitos títulos


Os dez ... (?)

Em função das novas demandas sociais, entre as quais se inclui a luta permanente contra toda forma de racismo, os editores norte-americanos do livro E Não Sobrou Nenhum (originalmente O Caso dos Dez Negrinhos), de 1939, bem como, mais tarde, os produtores de filmes e de peças teatrais baseados na mesma história de Agatha Christie, trocaram o título original da obra para outras versões que julgaram mais adequadas:

Ten Little Niggers
(título original)




Ten Little Indians



 

And Then There Were None



E no Brasil:


O Caso dos Dez Negrinhos


E Não Sobrou Nenhum



Uma palavrinha - Email de Contato


Queridos leitores e fãs de Agatha Christie,

Muitas pessoas desejam participar da Revista-blog através de comentários, mas encontram dificuldades técnicas para enviá-lo (coisas da Google...).

Porém, eu criei um email específico para a Revista-blog. Assim, aqueles que por ventura não conseguirem enviar um comentário e quiserem, basta enviá-lo por email expressando textualmente seu desejo de que este seja publicado como um comentário - fato necessário para servir como autorização - que eu terei o prazer de fazê-lo em seguida. Ah, sim, naturalmente, por uma questão de Direitos Autorais e Responsabilidade, eu não modificarei uma vírgula sequer dos textos que forem enviados. Combinado?

E aqueles outros que simplesmente desejarem fazer contato em particular, segue abaixo o email. Participem a vontade! 



Abraços,
Christy Siqueira.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Curiosidades - O Mistério do Quarto nº 411


Um Quarto Muito Especial







O maior dos mistérios envolvendo o quarto nº 411 trata-se de como conseguir se hospedar na famosa suíte do Pera Palace Hotel - Jumeirah, em Istambul, Turquia. Motivo: de acordo com o hotel, Agatha Christie se hospedou exatamente neste quarto por diversas vezes, entre 1926 e 1932. 


Como se não bastasse tamanho destaque, segundo o hotel, teria sido ali que ela escrevera Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express), um de seus mais celebrados livros. Entretanto, a verdade é que no hotel, Agatha escreveu outra história: O Triângulo de Rhodes (O Assassinato no Expresso do Oriente ela teria escrito em sua própria casa). De qualquer forma, o gênio criativo da escritora se manisfestou, sim, entre aquelas quatro paredes.




teto do saguão do Pera Palace Hotel



Assim sendo, já imaginou que emoção se hospedar no mesmo local que serviu de inspiração para nossa querida autora conceber um de seus mais famosos romances policiais?! Seria de fato um dos acontecimentos fantásticos como nas estórias de Sherazade e das mil e uma noites...  






The Agatha Christie Room









Rebatizado com o nome de Agatha Christie Room em sua honra, o quarto parece relativamente simples a primeira vista, em face a toda a opulência típica dos hotéis do Oriente - e do próprio Pera Palace em suas outras dependências. Como se pode ver na foto, as camas são de ferro pintado de dourado, as cores das cortinas e colchas são escuras, um armário de madeira muito alto e com um espelho ao centro, e uma escrivaninha com cadeira completam o ar sóbrio e tradicional do cômodo. 

Mas, para mim, isto faz todo o sentido, uma vez que Agatha Christie não era muito dada a luxos grandiosos. Naturalmente, há uma bela foto da escritora na parede e outras peças que aludem a ela.






As descrições do Agatha Christie Room, conforme o site do hotel (link ao final), são:





Tamanho: 46 metros quadrados



Ocupação máxima: 2 adultos


Especificações especiais:


* uma vasta coleção de livros de Agatha Chrisite

* uma máquina de escrever clássica

* banheiro com chuveiro e banheira

* visa de Tepebasi

* mobília histórica

* moderna tecnologia















O Pera Palace Hotel - Jumeirah possui outros quartos batizados em homenagem a pessoas famosas que teriam se hospedado lá. Todavia, o quarto 411, embora não seja nem de longe o mais vistoso, é um dos mais concorridos e portanto mais difíceis de reservar. Assim, pelo menos para mim, o mistério de como conseguir passar uma temporada desfrutando dele permanece...







Entrada do Pera Palace Hotel



Para você começar a desvenda-lo, visite o site do hotel em:

https://www.jumeirah.com/en/hotels-resorts/istanbul/pera-palace-hotel-jumeirah/



 




segunda-feira, 24 de junho de 2013

PERSONAGENS que também AMAMOS - Capitão Hastings: um grande romântico



Quem é a Dona do Coração de Hastings?



Hugh Fraser como Capitão Hastings


! Cuidado: ending spoiler!

No texto abaixo eu “fofoquei” só um pouquinho. Acho que não dá pra estragar as surpresas da estória, mas devo avisar mesmo assim. 
 
O simpático Capitão Arthur Hastings, o fiel amigo de Hercule Poirot e também seu companheiro em várias aventuras, me passa um ar doce, típico de um homem um pouco tímido, meio, digamos, atrapalhado quando o assunto é mulheres. E, em função disso, ele também parece muitas vezes ser um homem solitário. Mas ele não é! Na verdade, existe uma história secundária e até romântica sobre a vida do Capitão Hastings. Ela é a seguinte:  

Em 1923, Hastings conhece Dulcie Duveen no expresso de Calais, conforme lemos em Assassinato no Campo de Golfe (The Murder On The Links, 1923). Dulcie é muito jovem, tem por volta de 17 anos, e é bonita e vivaz como qualquer garota de sua idade, e Hastings já passava dos 30 anos de idade naquela época. Toda uma estória acontece então no livro, envolvendo mentirinhas e nomes falsos, mas o fato é que Hastings se apaixona perdidamente por ela! Prova disso é que ele guarda consigo uma carta escrita por Dulcie há anos! Veja neste trecho do livro, narrado por Hastings:


A Bella nem sequer quis esperar para ver como as coisas corriam.

Estou muito cansada, não posso escrever mais. Começara a assinar com o nome de «Cinderela», mas riscara e escrevera antes Dulcie Duveen.

Era uma carta mal escrita e confusa, mas ainda hoje a guardo.


Poirot a chama de Mademoiselle Dulcie e Hastings, devido a uma confusão contada na estória, passa um bom tempo a chamando de Bella


CINDERELLA  e o PRÍNCIPE  HASTINGS



Hugh Fraser como Capitão Hastings

É claro que no começo Hastings nega tudo até para si mesmo, alegando que ela não era seu tipo. Insegurança devido à diferença de idade, talvez? Bem, quando o trem pára, Dulcie lhe diz que seu nome é Cinderella, e é assim que Hastings vai chamá-la pelo resto do livro – e de suas vidas. Sim, porque (e aqui vem o spoiler) ao final eles se apaixonam e ficam juntos.

Veja que romântico é o trecho final do livro, ainda narrado por Hastings, com direito a beijo apaixonado e tudo:

Não lhe posso chamar Bella, visto não ser esse o seu nome, e Dulcie parece-me muito pouco familiar, não estou habituado. Portanto, tem de ser Cinderela. Cinderela casou com o príncipe, como se lembra. Eu não sou príncipe, mas. .
Ela interrompeu-me:

- Tenho a certeza de que ela o avisou! Compreende, ela não se podia transformar numa princesa, afinal era apenas uma moça de cozinha...  


É a vez de o príncipe interromper. - Sabe o que ele disse?
- Não.
- Diabo  disse o príncipe, e beijou-a!


E juntei o gesto à palavra.



Hastings e Dulcine (ou Dulcie) acabam se casando e em seguida se mudam para longe, porém, para nossa sorte, Agatha Christie inventa uma série de pretextos para que Hastings retorne e se reencontre com Poirot em vários casos misteriosos.  



Hugh Fraser como Hastings


Como é mesmo o nome dela?

Depois do casamento de Hastings, Agatha Christie acabou criando uma certa confusão em relação ao nome da esposa do Capitão, pois, em Os Crimes ABC - The ABC Murders, Hastings se refere a ela como Bella. Todavia, nossa hábil escritora corrigiu posteriormente sua pequena falha em Cai o Pano – Curtain, onde Hastings sempre se refere a sua amada como Cinders, que é um diminutivo carinhoso de Cinderella.

********************
Romântica como eu sou, prefiro acreditar que quando Hastings a chamou de Bella, se tratava apenas de um nome carinhoso com o qual ele costumava tratar Dulcine, sua Cinderella ou simplesmente Cinders, o eterno amor de sua vida.

MISS MARPLE: CHÁ & BOLINHOS - Desvendando o mistério de sua idade avançada


A idade de Miss Marple:

  
hum, será que isto realmente importa?
 


Margareth Ruthford como Miss Marple

Anteriormente, escrevi aqui um artigo acerca da idade de Miss Marple. Esta é uma questão que sempre intrigou os fãs do mundo todo, uma vez que, pelas contas, Miss Marple, lá por suas últimas estórias, já deveria estar com bem mais de 100 anos de idade !

Ocorre que, em função do enorme sucesso da esperta velhinha, Agatha Christie se viu escrevendo estórias com suas aventuras por décadas. Porém, mesmo que a autora pudesse adivinhar o futuro e saber que Miss Marple ainda participaria de outras tantas aventuras por anos a fio, ainda assim Agatha Christie a teria concebido idosa desde o inicio. E por quê? Há uma razão perfeitamente lógica para isso:


Geraldine McEwan como Miss Marple



Uma Sábia Estratégia Literária

A solução para este mistério de incrível longevidade é na verdade muito simples. Ocorre que a idade avançada da sagaz senhora faz parte de uma estratégia literária utilizada por Agatha Christie. Trata-se de um instrumento, um mecanismo técnico dentro da arte literária ao qual a escritora recorreu com sabedoria.

Ora, para que os métodos investigativos de Miss Jane Marple funcionassem e apresentassem alguma coerência, era imprescindível que ela nascesse idosa.

Em suas aventuras, a velhinha detetive vai tecendo comparações entre as pessoas e a vida na pacata Vila de St Mary Mead, onde mora, com as pessoas e a vida na cidade. Do mesmo modo, Miss Marple segue fazendo analogias entre os fatos do presente e os do passado, enquanto procura desvendar os mistérios nos quais se envolve. E tudo isso salpicado pelas suas famosas impressões e conclusões acerca da natureza humana.

Ora, uma mulher mais jovem não teria tido o tempo nem a experiência de vida necessários para tanto!





Angela Lansbury como Miss Marple



A Relevância de ser Idosa


Se Miss Marple tivesse sido concebida por Agatha Christie mais nova, ainda que só um pouco, ela não poderia ter solucionado aqueles crimes do modo como os solucionou.

Ou seja, praticamente a maior parte do tempo quietinha, fazendo tricô ou tomando chá, matutando com seus botões, e, assim, comparando lembranças, e por vezes fazendo umas visitinhas aparentemente inocentes aqui, umas perguntinhas ali, escutando atentamente umas conversinhas acolá. Era fundamental que ela fosse idosa desde o princípio, pois, do contrário, não seria possível corroborar seu estilo ou sua técnica para solucionar os mistérios. 

Criar Miss Marple como sendo uma senhora de idade avançada, conforme a descrição da própria Agatha Christie em seus livros, foi, antes de tudo, um golpe de mestre de nossa querida Rainha do Mistério! Mais uma prova da genialidade desta grande escritora.

Afinal, confesse: será que você se encantaria tanto por Miss Marple se ela não fosse esta simpática e esperta velhinha? Eu não!



LIVROS & ENTRELINHAS - Macbeth e uma Canção Infantil


De Versos de Shakespeare a Versinhos Infantis





A preciosidade que possuía Agatha Christie na arte de escrever é inegável. Uma de suas marcas é rechear muitos de seus livros com citações de obras de outros escritores ou poetas, assim como com versinhos, cantigas infantis e pensamentos diversos.

Muitas das vezes, ela utilizava parte deste material como título de seus livros. É o que acontece com Um Pressentimento Funesto (By the Pricking of My Thumbs), cujo título original em inglês é um verso da famosa tragédia de Shakespeare: Macbeth.  








“By the pricking of my thumbs,
Something wicked this way comes".


(Macbeth)
Pelo comichar dos meus polegares
Sei que deste lado vem vindo algo malvado".




Além disso, também em Um Pressentimento Funesto, Agatha Christie reproduz um antigo versinho infantil inglês:

“Here is a church and
Here is the steeple,
Open the doors and
There are the people”

(Child's rhyme)

"Aqui está a igreja e
Aqui está o campanário,
Abram as portas e
Lá estão as pessoas"

Porém, na versão em português, foi usado um outro versinho popular mais comum por aqui:
“Passa passará, o de trás ficará
A porteira está aberta para quem quiser passar.”
 reprodução da tela de Andrea Honaise