“Por que não seria belga o meu
detetive?”
(Agatha Christie)
Atenção: Esta publicação inclui um desafio: um pequeno mistério para
você solucionar!
Todo fã do implacável Hercule Poirot – sejam os novos ou os antigos – em um determinado momento, sempre se perguntam: mas como é que Agatha Christie foi imaginar um homenzinho como ele? Sim, um homenzinho: pois é exatamente assim que seu fiel amigo Hastings o descreve para nós pela primeira vez em 1920, em O Misterioso Caso de Styles (The Mysterious Affair at Styles):
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David Suchet como Poirot |
Todo fã do implacável Hercule Poirot – sejam os novos ou os antigos – em um determinado momento, sempre se perguntam: mas como é que Agatha Christie foi imaginar um homenzinho como ele? Sim, um homenzinho: pois é exatamente assim que seu fiel amigo Hastings o descreve para nós pela primeira vez em 1920, em O Misterioso Caso de Styles (The Mysterious Affair at Styles):
Um homenzinho de aparência extraordinária:
ostentava pouco mais de 1,60m, mas caminhava com grande dignidade.
O baixinho de origem
belga e aparência ridícula, com a cabeça no formato de um ovo inclinado para o
lado, cabelos pretos brilhosos, bigodes duros e perfeitos e indumentária impecável,
tornou-se um dos maiores detetives de todos os tempos – se não o maior. E a questão permanece: como foi que Dame
Agatha o concebeu, desde o início, do mesmo jeito e com os mesmos traços
de personalidade? Esta não é uma pergunta difícil de se responder: as
explicações são repetidamente fornecidas nos mais diversos lugares. Porém, todos
aqueles que respondem a pergunta bebem da mesma fonte: nas palavras da própria
Agatha Christie, que foi bastante gentil em nos revelar o passo a passo do
processo de criação de seu personagem Hercule Poirot. Então, em vez de ser eu mais
uma pessoa a recontar a história que já foi narrada pela própria criadora do
detetive, resolvi transcrever aqui suas palavras originais, muito mais
interessantes do que qualquer coisa que eu mesma possa escrever, e que
se encontram na Autobiografia, na
Quinta parte – A Guerra.
SÓ UM DETALHEZINHO:
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estátua de Poirot em Ellezelles, Bélgica |
Porém, só mais uma coisinha: um detalhe, algo que normalmente passa
desapercebido aos olhos dos que leem este trecho da Autobiografia, algo aparentemente tolo, mas que na verdade não tem
nada de bobo, pelo contrário, e que chamou minha atenção por ser, na realidade, um dos mais
antigos e sábios exercícios da Psicologia. Assim, fica aqui o pequeno desafio para
você, aficionado das estórias de mistério: de que detalhe estaria eu falando? Procure na
narrativa de Agatha Christie a seguir e veja minha resposta ao final desta
publicação.
Teria de aparecer um detetive
Comecei a considerar que espécie de estória policial poderia escrever. (...) Naturalmente, teria de aparecer um detetive. Nessa altura achava-me mergulhada na tradição de Sherlock Holmes. Por isso pensei logo em detetives. Não poderia ser como Sherlock Holmes, é claro: teria de inventar um diferente, bem meu. (...) Quem poderia ser? Um estudante? Muito difícil! Um cientista? Que sabia eu acerca de cientistas? Lembrei-me então dos nossos refugiados belgas. Havia uma colônia de refugiados belgas bastante numerosa na paróquia de Tor. (...) Muitos deles eram pobres camponeses desconfiados, e a única coisa que queriam era serem convidados para tomar chá, ou que as pessoas fossem visitá-los. (...)
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David Suchet como Poirot |
Por que não seria belga
o meu detetive?
Deixei que crescesse como personagem. Deveria ter sido inspetor, de modo que pudesse ter certos conhecimentos de crimes. Seria meticuloso, ordenado, pensei com os meus botões enquanto arrumava o meu quarto. Um homenzinho bem ordeiro. Parecia até que o via, um homem muito alinhado, cuidando sempre de colocar tudo no devido lugar, gostando dos objetos aos pares, gostando das coisas quadradas, e não redondas. E seria muito inteligente – teria muitas células cinzentas – essa era uma boa frase, devia recordá-la.
O seu nome seria espetacular.
E se eu chamasse o meu homenzinho Hercules? Ele seria um homem baixo – Hercules seria mesmo um bom nome. O seu sobrenome era mais difícil. Não sei por que me decidi por Poirot. Se foi eu própria quem o inventou ou se o vi em algum jornal, ou escrito em algum lugar, não sei – mas assentei que seria esse o nome. Combinava bem, não com Hercules com S, mas sim com Hercule – Hercule Poirot. Estava certo, assente, graças a Deus!
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David Suchet como Poirot |
Voilà!
E foi assim que Agatha Christie concebeu de primeira o detetive Hercule Poirot,
com seus hábitos de organização e sua personalidade metódica, sua aparência,
que é perfeitamente coerente com sua personalidade, assim como sua origem belga
e seu ofício anterior na área policial.
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Então: descobriu o detalhe do qual falei? De um modo simples, cotidiano, e que certamente surpreende
muita gente, Agatha Christie ia dando forma e vida em sua imaginação a Hercule Poirot – como ela mesma nos conta: enquanto arrumava o seu próprio quarto! Esta constitui uma sabedoria antiga da Psicologia: enquanto arrumamos as gavetas, ajeitamos nossa vida, consertamos nossos problemas, visualizamos soluções e temos as mais incríveis ideias! Assim, Agatha Christie, mesmo sem conhecer os truques da Psicologia, arrumava seus
pensamentos, organizava suas ideias, e dava início ao processo de construção
deste magnífico personagem, tão importante na literatura moderna mundial e que
a tantas pessoas influenciou, encantou, divertiu no mundo todo.
MÊS de ANIVERSÁRIO de
AGATHA CHRISTIE
AGATHA CHRISTIE