quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Poirot: Bigodes & Bengala - O processo de criação de Poirot contado por Agatha Chrsitie



“Por que não seria belga o meu detetive?”
(Agatha Christie) 

Atenção: Esta publicação inclui um desafio: um pequeno mistério para você solucionar!


David Suchet como Poirot

Todo fã do implacável Hercule Poirot – sejam os novos ou os antigos – em um determinado momento, sempre se perguntam: mas como é que Agatha Christie foi imaginar um homenzinho como ele? Sim, um homenzinho: pois é exatamente assim que seu fiel amigo Hastings o descreve para nós pela primeira vez em 1920, em O Misterioso Caso de Styles (The Mysterious Affair at Styles):


Um homenzinho de aparência extraordinária: ostentava pouco mais de 1,60m, mas caminhava com grande dignidade.


O baixinho de origem belga e aparência ridícula, com a cabeça no formato de um ovo inclinado para o lado, cabelos pretos brilhosos, bigodes duros e perfeitos e indumentária impecável, tornou-se um dos maiores detetives de todos os tempos – se não o maior. E a questão permanece: como foi que Dame Agatha o concebeu, desde o início, do mesmo jeito e com os mesmos traços de personalidade? Esta não é uma pergunta difícil de se responder: as explicações são repetidamente fornecidas nos mais diversos lugares. Porém, todos aqueles que respondem a pergunta bebem da mesma fonte: nas palavras da própria Agatha Christie, que foi bastante gentil em nos revelar o passo a passo do processo de criação de seu personagem Hercule Poirot. Então, em vez de ser eu mais uma pessoa a recontar a história que já foi narrada pela própria criadora do detetive, resolvi transcrever aqui suas palavras originais, muito mais interessantes do que qualquer coisa que eu mesma possa escrever, e que se encontram na Autobiografia, na Quinta parte – A Guerra.
SÓ UM DETALHEZINHO:
estátua de Poirot em Ellezelles, Bélgica


Porém, só mais uma coisinha: um detalhe, algo que normalmente passa desapercebido aos olhos dos que leem este trecho da Autobiografia, algo aparentemente tolo, mas que na verdade não tem nada de bobo, pelo contrário, e que chamou minha atenção por ser, na realidade, um dos mais antigos e sábios exercícios da Psicologia. Assim, fica aqui o pequeno desafio para você, aficionado das estórias de mistério: de que detalhe estaria eu falando? Procure na narrativa de Agatha Christie a seguir e veja minha resposta ao final desta publicação.


Teria de aparecer um detetive

Comecei a considerar que espécie de estória policial poderia escrever. (...) Naturalmente, teria de aparecer um detetive. Nessa altura achava-me mergulhada na tradição de Sherlock Holmes. Por isso pensei logo em detetives. Não poderia ser como Sherlock Holmes, é claro: teria de inventar um diferente, bem meu. (...) Quem poderia ser? Um estudante? Muito difícil! Um cientista? Que sabia eu acerca de cientistas? Lembrei-me então dos nossos refugiados belgas. Havia uma colônia de refugiados belgas bastante numerosa na paróquia de Tor. (...) Muitos deles eram pobres camponeses desconfiados, e a única coisa que queriam era serem convidados para tomar chá, ou que as pessoas fossem visitá-los. (...)



David Suchet como Poirot


Por que não seria belga

o meu detetive?


Deixei que crescesse como personagem. Deveria ter sido inspetor, de modo que pudesse ter certos conhecimentos de crimes. Seria meticuloso, ordenado, pensei com os meus botões enquanto arrumava o meu quarto. Um homenzinho bem ordeiro. Parecia até que o via, um homem muito alinhado, cuidando sempre de colocar tudo no devido lugar, gostando dos objetos aos pares, gostando das coisas quadradas, e não redondas. E seria muito inteligente – teria muitas células cinzentas – essa era uma boa frase, devia recordá-la.


O seu nome seria espetacular.

E se eu chamasse o meu homenzinho Hercules? Ele seria um homem baixo – Hercules seria mesmo um bom nome. O seu sobrenome era mais difícil. Não sei por que me decidi por Poirot. Se foi eu própria quem o inventou ou se o vi em algum jornal, ou escrito em algum lugar, não sei – mas assentei que seria esse o nome. Combinava bem, não com Hercules com S, mas sim com Hercule – Hercule Poirot. Estava certo, assente, graças a Deus!


David Suchet como Poirot


Voilà!
E foi assim que Agatha Christie concebeu de primeira o detetive Hercule Poirot, com seus hábitos de organização e sua personalidade metódica, sua aparência, que é perfeitamente coerente com sua personalidade, assim como sua origem belga e seu ofício anterior na área policial.
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Então: descobriu o detalhe do qual falei? De um modo simples, cotidiano, e que certamente surpreende muita gente, Agatha Christie ia dando forma e vida em sua imaginação a Hercule Poirot – como ela mesma nos conta: enquanto arrumava o seu próprio quarto! Esta constitui uma sabedoria antiga da Psicologia: enquanto arrumamos as gavetas, ajeitamos nossa vida, consertamos nossos problemas, visualizamos soluções e temos as mais incríveis ideias! Assim, Agatha Christie, mesmo sem conhecer os truques da Psicologia, arrumava seus pensamentos, organizava suas ideias, e dava início ao processo de construção deste magnífico personagem, tão importante na literatura moderna mundial e que a tantas pessoas influenciou, encantou, divertiu no mundo todo.

ESPECIAL  SETEMBRO 2013: 
MÊS  de ANIVERSÁRIO de

AGATHA CHRISTIE 


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Palavras de Fã - Participação Especial: Hugh Stephens




ESPECIAL  SETEMBRO 2013:

MÊS de ANIVERSÁRIO de

AGATHA CHRISTIE



Agora, o Fã é quem fala!

Todo nós, que somos fãs, já experimentamos esta curiosa trajetória entre o escuro sem graça do período quando desconhecemos um artista, e o fascinante mundo multicolorido de emoções que se descortina diante de nós depois que o conhecemos. Sabendo disso, para o primeiro tema da nova seção desta Revista-blog – Palavras de Fã – convidei vários fãs de Agatha Christie a responderem em poucas palavras a seguinte pergunta: como se tornou fã de Rainha do Crime.

Hoje, o compatriota inglês de Agatha Christie, Hugh Stephens, nos conta o que, ou melhor, quem o levou a se tornar um grande fã de nossa querida escritora. Hum, quem será esta pessoa....

 

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Como uma brasileira ensinou um inglês a gostar de Agatha Christie

Eu sou inglês, nascido em Manchester, e moro há 14 anos no Rio de Janeiro, Brasil. Eu certamente sabia da existência de Agatha Christie desde pequeno nos tempos de escola. Todavia, são tantos os escritores e poetas ingleses ou irlandeses, escoceses, norte americanos, australianos, sul africanos,  que são considerados importantes, que o nome de todos eles ficou retido em minha memória, mas a Sra. Agatha Christie não era a que eu tinha o costume de ler. Na época em que vim para o Brasil trabalhar em pesquisas em uma universidade brasileira, eu tive o prazer de conhecer uma colega da mesma universidade, a Professora Christy, esta brasileira apaixonada por Agatha Christie, especialista em literatura inglesa e norte americano, e que lecionava justamente literatura inglesa na Faculdade de Letras da mesma universidade. Não me envergonho de dizer que Christy entende e conhece muito mais sobre os escritores e os poetas de meu país e sobre literatura em geral do que eu mesmo jamais vou conseguir conhecer um dia! Minha amiga logo ficou muito decepcionada quando descobriu esta minha deficiência, ou seja, minha britânica ignorância. Bem, para tentar ganhar uns pontinhos com ela e também, tenho que admitir, devido ao meu orgulho inglês, para que eu não ficasse tão por baixo, decidi ler um livro qualquer de Agatha Christie e lhe pedi que me indicasse um. Sabiamente, ela me emprestou Ten Little Niggers. Desde então, tornei-me um grande fã e adepto da literatura detetivesca, especialmente dos livros de Agatha Christie. Passei a frequentar o Clube de Leitura e Detetives, coordenado pela Christy, e acabei influenciando muitos de meus colegas de trabalho e amigos, brasileiros e de outras nacionalidades, a lerem a Rainha do Crime. E foi assim que uma brasileira, muito simpática e culta, dona do sorriso mais bonito que eu já vi em minha vida, ensinou a um inglês muito tolo e orgulhoso a apreciar a maior escritora inglesa de estórias de mistério: Agatha Christie.

H. Stephens.

Palavras de Fã - Participação Especial: Adriano Couto




ESPECIAL  SETEMBRO 2013:

MÊS de ANIVERSÁRIO de

AGATHA CHRISTIE




Agora, o Fã é quem fala!

Todo nós, que somos fãs, já experimentamos esta curiosa trajetória entre o escuro sem graça do período quando desconhecemos um artista, e o fascinante mundo multicolorido de emoções que se descortina diante de nós depois que o conhecemos. Sabendo disso, para o primeiro tema da nova seção desta Revista-blog – Palavras de Fã – convidei vários fãs de Agatha Christie a responderem em poucas palavras a seguinte pergunta: como se tornou fã de Rainha do Crime.

Nosso querido Adriano Couto, grande fã de Agatha Christie, chegou até a criar um adjetivo para definir todos aqueles que apreciam a obra da Rainha do Crime: os agathianos. Eu, com toda certeza, sou uma orgulhosa agathiana!


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Olá amigos (as) "agathianos" (as)!

Conheci a Agatha Christie (de fato) recentemente. Ate o final do ano passado não lia quaisquer tipos de livros de ficção, tinha até mesmo "preconceito", pois acreditava que estaria perdendo tempo, pensando que estava deixando de aprender algo cientifico, logo, somente lia livros didáticos, biografias, acadêmicos, teóricos, epistemológicos (como estou cursando Ciências Sociais, dai vocês imaginem! rs). 

Só que no final do ano passado, achei que iria surtar de tanto ler tanta coisa abstrata! Precisava "viajar", então resolvi me interessar pela literatura de ficção, mas qual gênero? Pesquisei, tentei um ou outro, até lembrar-me da Agatha Christie, e fui atrás (em cada autor, tentava descobrir a abra mais famosa), daí descobri segundo as pesquisas que o livro mais famoso era "E Não Sobrou Nenhum"! Então fui comprar o livro! Só que não achei em lugar nenhum!!! Depois de muito procurar, achei em quadrinhos LP & M, junto com a "Morte na Mesopotâmia".

Após esta leitura (lembrando que após encontrar este HQ, qualquer banca que eu passava, tinha o livro "E Não Sobrou Nenhum", com o título "E não sobrou nenhum!") baixei o filme do "Assassinato no Expresso Oriente", mais alguns da serie inglesa do Poirot ("Assassinato no Beco" e "O caso das amoras pretas").

Algum tempo depois, ganhei de aniversário "O assassinato na casa do pastor". Na sequência, li "Um brinde de cianureto"; "A casa do Penhasco"; quadrinhos LP & M "Assassinato no Expresso Oriente" e "Morte no Nilo"; "O mistério do trem azul"; "O cavalo amarelo" (meu favorito até agora!) e em seguida vou ler "Assassinato no campo de golfe". 

Sei que deveria obedecer uma ordem cronológica em minhas leituras, mas vou lendo e assistindo filmes conforme tenho acesso. Falando em filmes, olhei: "O segredo dos Chimneys"; "Um gato entre os pombos"; "Mistério no Caribe"; "O caso dos dez indiozinhos" (mudou o final do livro, não gostei! rs) e "O assassinato na casa do pastor".

Após esta "iniciação", ganhei também "Um estudo em vermelho" do Sherlock Holmes, mas prefiro a nossa querida Agatha. Me rendi completamente às suas obras e apaixonei-me pela nossa querida Miss Marple.

Ah, e de tão inspirado por suas histórias, fiz um curso de Detetive Particular! Rsrs. O referido curso, foi um casamento perfeito com a minha profissão (sou vigilante). 

Depois deste processo, queria encontrar no Facebook, um grupo ou fanpage sobre a Rainha do Crime, dai encontrei vocês e desde então passei a aprender muito mais sobre a nossa querida autora, com os relatos dos demais participantes.

Ufa! Esse é o meu "testemunho de conversão ao "agathianismo" (inventei agora essa expressão!) hahahaha!

Boas leituras!
Adriano Couto

 

Palavras de Fã - Participação Especial: Júnia Santos


 
ESPECIAL  SETEMBRO 2013:

MÊS de ANIVERSÁRIO de

AGATHA CHRISTIE

 
 
 
Agora, o Fã é quem fala!

Todo nós, que somos fãs, já experimentamos esta curiosa trajetória entre o escuro sem graça do período quando desconhecemos um artista, e o fascinante mundo multicolorido de emoções que se descortina diante de nós depois que o conhecemos. Sabendo disso, para o primeiro tema da nova seção desta Revista-blog – Palavras de Fã – convidei vários fãs de Agatha Christie a responderem em poucas palavras a seguinte pergunta: como se tornou fã de Rainha do Crime.

Neste relato, Júnia Santos compartilha conosco a trajetória que a levou a se tornar uma grande fã de Agatha Christie, bem como um trecho de sua obra, sempre inspiradora.

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Aprender a ler foi como descortinar uma outra dimensão em minha vida, lembro  da minha alegria de poder ''decifrar'' e anúncios e outdoors pelas ruas. Não tinha acesso a livros, até que um dia me levaram a uma biblioteca. Uau! Que alegria me deparar com uma ''casa'' de livros, de todos os jeitos. Lembro que devorei os livrinhos para minha idade  rapidinho e comecei a ler livros mais avançados (Hemingway, Tolstói e ....) peguei  um livro com uma capinha até meio sem graça de uma tal Agatha Christie! Minha Nossa Senhora do livrinho  genial! Foi qualquer coisa de sensacional! O livro foi '' O assassinato de Roger Ackroyd'', fiquei entre besta com a originalidade e indignada  com  a hora que que a autora fez com a minha cara, kkk. Nem preciso dizer que li todos os livros dela que tinha na biblioteca e  ao longo da vida fui descobrindo outros e  hoje qualquer pessoa que me conhece um tantinho, já sabe  dessa minha  admiração, não só pela obra dela, como também pela pessoa incrível  que  desvendamos  a cada dia!  Sem dizer que ela também é responsável por nos apresentar esse seres maravilhosos, que permeiam os livros ( Poirot , Hastings, Miss Marple,Henry Clitering ,Comandante Battle, Ariadne Oliver... ) e posso dizer com franqueza que algumas  citações de  outros livros nos livros dela, me aguçaram a curiosidade de ler clássicos ingleses, com Shakespeare!


E só para finalizar , tem ainda aqueles  pensamentos profundos ou parte  muito sensíveis que as vezes nem são ditos por personagens principais ou importantes, mas , que nos tocam a alma  e  compartilha conosco algum momentos difíceis ou muito felizes da nossa vida!

 
Posso deixar um deles aqui?  Um trecho de '' A mansão Hollow'':

 
''-Você é tão quente, Midge.

Sim , pensou ela, aquilo sim era o desespero.Uma coisa fria, uma coisa de frieza e solidão infinitas. Até então, nunca compreendera que o desespero era uma coisa fria.Pensara nele como uma coisa quente e apaixonada, uma coisa violenta, um desespero de sangue quente. Mas não era assim. Isso era o desespero, -essa escuridão exterior e total feita de frieza e solidão. E o pecado do desespero, de  que os padres falavam , era um pecado frio, o pecado de afastar-se de todos os contatos quente e humanos.''

 
Júnia Santos Graça



domingo, 15 de setembro de 2013

Especial Setembro: Mês Agatha Christie - Para Sempre Agatha Christie!





 
 
 
Hoje é um dia mais do que especial para esta Revista-blog: é o dia em que Agatha Christie nasceu – 15 de setembro de 1890. Em vista disso, dedico carinhosamente a crônica de hoje à celebração daquela que é a maior escritora de romances de detetive, crime e mistério de todos os tempos!

 
 
 
O SILÊNCIO ESTRONDOSO

Gostaria, de início, de chamar a atenção para uma questão intrigante: 

 Onde foram parar aqueles críticos à – e contemporâneos de – Agatha Christie?

Agatha Christie não foi sempre admirada por todos. Menos ainda, foi constantemente elogiada por seu talento como escritora ou teve o valor de sua obra reconhecido. Pelo contrário: muitas foram as críticas que a escritora recebeu, apontando deméritos tanto contra sua obra como contra sua pessoa. Na verdade, as recebe até os dias de hoje.

Inúmeras foram as tentativas em depreciar a capacidade intelectual da escritora, procurando alinhá-la ao perfil de uma pessoa de mente simplória. Existe um grupo partidário da crença de que Agatha Christie possuía uma habilidade diminuta em compreender o mundo ao seu redor, e portanto, a consideram míope em relação à realidade na qual vivia. Acusam-na de elitista, puritana, esnobe, xenofóbica, nacionalista, nostálgica de uma Inglaterra utópica, tão inexistente quanto a sociedade interiorana dos vilarejos pacatos e dos casarões vitorianos onde ela ambientava grande parte de suas estórias. Tampouco foram poupadas palavras de desprezo voltadas para os livros que escreveu: buscando minimizar o valor literário de sua obra, há muitos que julgam-na sob a perspectiva do produto natural de uma mente estreita. Classificam sua obra de forma infantilizada, considerando-a antes uma charada bem elaborada, um jogo de adivinhações e deduções em formato narrativo, do que propriamente como um trabalho literário.
 
Muito culta, muito discreta, muito modesta




Agatha Christie
Todos sabemos que Agatha Christie, da mesma forma que era avessa a falar acerca de sua vida particular, também não era propriamente entusiasta em comentar sua obra. Assim, o que lhes retrucava Agatha Christie em face das críticas? Como resposta, cito uma de suas frases: 

Eu gostaria que se dissesse que eu fui uma boa escritora de estórias de detetive e suspense.

A escritora parecia permitir, propositadamente, satisfatoriamente, que a considerassem uma mera e simples escritora de estórias de detetive. Todavia, de jeito nenhum, mera e simples seriam aqui um demérito! Como é hoje notoriamente sabido, Agatha Christie era uma mulher culta, muito bem informada, de variados talentos, de um intelecto criativo, e, especificamente no que tange à literatura, uma grande conhecedora da arte das Letras. Prova disso é o fato de ela valer-se com frequências de referências a poemas e livros, clássicos ou a ela contemporâneos, bem como ao folclore, como eu mesma venho demonstrando em diversas das postagens na seção sob o marcador: Curtindo a Obra da Rainha do Crime.

Na verdade: uma sábia e generosa Dama!

Acontece que o que Agatha Christie desejava mesmo é que a sua obra se comunicasse com o público, lhe tocasse, lhe instigasse, cumprisse seu propósito – e não ela própria! A Rainha do Mistério, modesta, magnânima, tinha a habilidade aguçada de se esquivar dos holofotes e deixar que o brilho recaísse sobre suas estórias e seus personagens. E, acredite, esta atitude só poderia ser proveniente de uma mente criativa, sagaz, de uma inteligência brilhante.


Como posso afirmar tal coisa? É simples: basta verificar o que aconteceu – checar os fatos históricos. Caso a obra de Agatha Christie fosse tola ou superficial ou ruim, como foi dito, teria ela sobrevivido por tanto tempo? Continuariam pessoas, gerações após gerações, por todos os cantos do mundo, de todas as idades, gênero, classe social, profissões, a lê-la, a desfrutar dela, a admirá-la? Mesmo após o segredo do mistério de uma dada estória ter sido revelado – como no caso do sucesso recorde de A Ratoeira: mais de 60 anos em cartaz! – o charme na forma como foram escritas, como foram engendradas as narrativas, como foram tecidas as tramas, o encantamento que as envolve permanecem tão vividos como nunca!

E onde mesmo foram parar aqueles seus críticos?
 
E onde foram parar os críticos de Agatha Christie, ou ainda, muitos dos escritores e romancistas célebres há época e que frequentemente eram citados como evidências da inferioridade de nossa querida escritora? Desapareceram, em sua maioria, legados ao esquecimento. Enquanto que a obra de Agatha Christie continua aí, batendo recordes e sendo celebrada até hoje.


minha foto predileta de Agatha Christie idosa!

Inteligentemente, modestamente, Agatha Christie sabia que bastava acreditar no poder e na honestidade de sua obra, e deixar com que ela seguisse seu caminho rumo aos louros e à eternidade. Sorrindo tranquila, ela comprovou para todos não só sua incomensurável sagacidade, mas também a enorme força capaz de impregnar o mais puro silêncio.

Um silêncio poderoso.

Um silêncio intrépido.

Um silêncio estrondoso.

Com todo meu amor,
para Agatha Christie,
Christy Siqueira.
 
PARA SEMPRE AGATHA CHRISTIE!
 
 
 

ESPECIAL  SETEMBRO 2013:
MÊS AGATHA CHRISTIE
 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

MISS MARPLE: CHÁ & BOLINHOS - Quem foi a inspiração para criar Miss Marple



Existiu alguma Miss Marple

na vida real?



Helen Heyes como Miss Marple

Quem teria sido a velhinha que inspirou Agatha Christie a criar a esperta e adorável Miss Marple? Segundo consta, não fora uma senhorinha somente: foram várias delas, cujas personalidades, maneirismos, formas de se trajar e hábitos cotidianos, Agatha Christie foi misturando, como quem prepara a delicada massa de um doce refinado, acrescentando uma coisinha aqui, eliminando outra ali, inventando outra acolá, provando um pouquinho até chegar a esta doce e sagaz velhinhas a quem tanto amamos hoje.

Em Os Treze Enigmas (The Thirteen Problems), Miss Jane Marple nos é descrita por Agatha Christie pela primeira vez como:

 trajando um vestido preto de brocado, muito bem preso ao redor da cintura. Rendas de musselina desciam como uma cascata pela frente de seu corpete. Ela vestia luvas de renda preta e um capa preta de renda encobria seus fartos cabelos brancos como a neve ajeitados em um coque no alto da cabeça. Ela estava tricotando – qualquer coisa branca e fofa e suave. Seus olhos azuis opacos, benignos e gentis, escrutinavam seu sobrinho e convidados com prazer.
 

Não foi a avó de Agatha Christie!
Geraldine MacEwan como Miss Marple

Na Autobiografia, Dame Agatha nos revela que Miss Marple contém uma certa dose de influência das diversas mulheres que conheceu através de suas duas parentes idosas, senhoras tipicamente vitorianas, chamadas de Aunt-Grannie (Tia-Vozinha), que era na verdade a própria avó de Agatha Christie, e Grannie B (Vozinha B). Contudo, de sua própria avó, Margareth Miller, ela nos conta que Miss Marple não compartilhava de qualquer semelhança, ao contrário do que muita gente pensa:

Miss Marple não era, de modo algum, um retrato de minha avó; era muito mais atarantada e tinha suas manias de solteirona, o que não era o caso de minha avó. 

Exceto talvez unicamente pela tendência de sua avó em esperar o pior de todos e de tudo – e por estar, com uma eficiência quase assustadora, geralmente certa.





"Miss Marple se insinuou de mansinho
em minha vida."
Porém, o que eu considero mais interessante entre todas as coisas que Agatha Christie falou a respeito de Miss Marple foi que a velhinha detetive  se insinuou tão de mansinho em minha vida que quase não notei sua chegada. 

Quando questionada a respeito de Os Treze Enigmas, Agatha Christie dizia que não conseguia se lembrar onde, quando ou como teria escrito o livro, por que veio a escrevê-lo, ou mesmo o que lhe havia sugerido escolher uma nova personagem – Miss Marple – para atuar na estória.






Julia Mackenzie como Miss Marple 

Gosto de imaginar esta calma com que a gentil velhinha simplesmente apareceu na vida de nossa querida escritora. Se Miss Marple fosse real, eu não conseguiria enxergar outra forma de ela ter surgido, por exemplo, em uma sala de sua casa, quieta em uma poltrona, tricotando ou bebericando uma xícara de chá. Agatha Christie costumava dizer que:

Miss Marple se debruçou furtivamente sobre mim, tomando-me conta sem o menor esforço. Não houve planejamento na sua construção, deliberações prévias sobre a personagem, nenhuma vontade consciente de escrever sobre ela envolvida.

Simplesmente, calmamente, lá estava ela, sorrindo, pronta para se envolver em aventuras e mistérios.




ESPECIAL  SETEMBRO 2013:

MÊS de ANIVERSÁRIO de

AGATHA CHRISTIE