quinta-feira, 7 de junho de 2018

Entre Aspas "." - O PRIMEIRO AMOR DE AGATHA


"PARECE  QUE  CAMINHAMOS  NAS  NUVENS!"





“Parece que caminhamos nas nuvens, sustentadas por esse amor”, confessou Agatha Christie ao nos contar sobre sua primeira paixão por um rapaz. 

De um modo ao mesmo tempo doce e divertido, nossa Rainha do Crime nos brinda com estas deliciosas memórias de sua infância, extraídas de sua Autobiografia.


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Aos quatro anos de idade, apaixonei-me. Foi uma terrível, maravilhosa experiência. O objeto de minha paixão era um jovem oficial de Dartmouth, amigo de meu irmão. De olhos azuis e cabelos louros, atraía todos os meus instintos românticos. Ele não fazia a menor ideia das emoções que provocava.

Olimpicamente desinteressado da menininha irmã de seu amigo Monty, provavelmente teria respondido, se lhe perguntassem a esse respeito, que eu não gostava dele. O excesso de emoção fazia com que me dirigisse para o lado oposto quando o via chegar e, quando sentada à mesa, mantinha meu rosto resolutamente virado para outra direção. Minha mãe repreendia-me gentilmente. “Sei que você é encabulada, queridinha, mas deve procurar ser cortês. É tão mal-educada, virando o rosto a Philip o tempo todo e apenas resmungando quando ele fala com você! Mesmo que não goste dele, tem que ser polida!”

Não gostar dele! Quão pouco sabiam a meu respeito! Quando hoje em dia penso nisso, revejo a felicidade que pode provocar um amor infantil. É um amor sem exigências, que não reclama nada, nem uma palavra sequer! É pura adoração. PARECE QUE CAMINHAMOS NAS NUVENS, SUSTENTADAS POR ESSE AMOR, criando em nossas mentes ocasiões em que poderemos servir heroicamente à pessoa adorada.

Por exemplo: tratá-lo se ele ficar com peste. Salvá-lo de um incêndio. Servir-lhe de escudo a uma bala fatal. Qualquer situação que, em qualquer história do nosso conhecimento, suscitasse nossa imaginação.

Essas histórias imaginárias não terminam bem. Nelas se morre queimado, baleado, ou se sucumbe à peste. O herói jamais percebe o sacrifício supremo que se fez por ele. Eu ficava por vezes sentada na nursery, brincando com Tony, com uma aparência solene e severa, enquanto em minha mente fervilhavam, numa exaltação gloriosa, fantasias extravagantes.


Os meses passaram. Philip foi promovido a aspirante de marinha e deixou o Britannia. Durante algum tempo, a imagem dele ainda persistiu, mas já começava a definhar. O amor desvaneceu-se para reaparecer três anos mais tarde, quando eu amava sem esperanças um capitão do exército, alto e moreno, que cortejava minha irmã.


segunda-feira, 4 de junho de 2018

Entre Aspas "." - AMOR EM TEMPOS DE GUERRA



UM  SÓ  SOLDADO,  TRÊS  AMORES!




Especial: Dia dos Namorados



Quando trabalhava como enfermeira voluntária durante a Guerra, Agatha Christie passou por situações muito difíceis. 

Todavia, ainda assim, ao escrever sua biografia, ela manteve o bom humor e a ironia sofisticada, como nesta passagem bem divertida:





Agatha Christie como enfermeira






Autobiografia

Quinta Parte: A guerra





Recordo-me de um sargento, de rosto sério, cujas cartas de amor eu fui escrever. Ele não sabia ler nem escrever. Disse-me resumidamente o que queria que eu escrevesse.

 – Assim está muito bem, enfermeira – dizia, acenando com a cabeça quando eu lia o que escrevera. – Agora escreva em triplicado, sim.

– Em triplicado?! – perguntei.

– Sim – disse ele. – Uma para a Nellie, uma para a Jessie e outra para a Margareth.


 

quarta-feira, 25 de abril de 2018

MISS MARPLE: CHÁ & BOLINHOS - Pérolas de Sabedoria de Miss Marple (parte 2)



Geraldine McEwan como Miss Marple


PÉROLAS  DE  SABEDORIA DE MISS MARPLE
(parte 2)


Ah, nossa adorável velhinha detetive: uma hora doce, outra, mordaz; uma hora atrapalhada, outra, sagaz; uma hora frágil; outra, corajosa; uma hora enrubescendo modesta, outra, rindo-se orgulhosa; uma hora dizendo-se uma tola, outra, a mais esperta entre todos! Porém, há uma constante: Miss Marple é sempre sábia.


Ao cumprir uma missão autoimposta – a de reler todos os livros e contos com Miss Marple –, fui anotando as sábias frases da velhinha, fossem conselhos, simples constatações, conversas ou pensamentos. Em seguida, organizei as frases em 14 temas distintos, os quais publicarei em 3 postagens:



PARTE 1: O que Miss Marple tem a nos dizer sobre:

- ASSASSINOS

- CRIMES

- A NATUREZA HUMANA

- PROFISSÕES




PARTE 2: O que Miss Marple tem a nos dizer sobre:

- RAPAZES  &  HOMENS

- MOÇAS  &  MULHERES

- OS JOVENS

- CASAMENTO

- FAMÍLIA



PARTE 3: O que Miss Marple tem a nos dizer sobre:

- ALDEIAS E CIDADES PEQUENAS:

- MEXERICOS

- SI MESMA

- A  VIDA




É especialmente para você que é super fã de Miss Marple que eu dedico este trabalho. E espero, é claro, que todos se divirtam tanto lendo e imaginado nossa adorável velhinha dizendo estas coisas como eu me diverti fazendo a pesquisa e produzindo estas postagens!



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O  QUE  MISS  MARPLE  TEM  A  NOS  DIZER  SOBRE...




Joan Hickson como Miss Marple



... RAPAZES  &  HOMENS:



— Os cavalheiros em geral são egoístas.


— Os homens facilmente se sentem abandonados.


— Os cavalheiros nem sempre têm a cabeça tão assentada quanto parecem.


Ele não deixou que a filha colocasse aparelho nos dentes. Dizia que era a vontade de Deus que ela fosse dentuça. "Mas, afinal de contas", eu lhe disse, "o senhor apara sua barba e corta o cabelo." Ele respondeu que era um problema inteiramente diferente. Os homens são sempre assim!


— Só que é mais fácil para os homens, é claro!


— Mas um homem, percebem, não se interessa da mesma maneira por mexericos.


— Receio que os cavalheiros, quando se apaixonam com uma certa idade, sejam gravemente atacados pela doença. É verdadeiramente uma loucura.


Os homens não ligam muito para o dever no que tange a suas esposas... o que demonstram exteriormente é outro assunto.


Apenas gostava de ter alguém que fosse um pouco "diferente", e lhe desse flores e bombons, coisa que os rapazes ingleses não costumam fazer.


Os cavalheiros, quando têm algum desapontamento querem algo mais forte que chá.


Os homens pertencem a uma categoria totalmente diversa. Exigem dois ovos com bacon no café da manhã, três refeições bem nutritivas por dia e nunca se deve contrariá-los nem discutir com eles, antes do jantar.


Hoje em dia os homens têm que trabalhar tanto! Parece até que nem há mais tempo de folga, por mais dinheiro que se tenha.




Angla Langsbury como Miss Marple



... MOÇAS & MULHERES


— Oh, sim, tenho muita experiência para saber quando uma jovem está dizendo a verdade e quando esconde alguma coisa.


— Unhas roídas e unhas cortadas rentes são coisas muito diferentes! Quem conhece unhas de moças não pode enganar-se com isso.


— Unhas roídas são muito feias, eu sempre digo às meninas na minha sala.


— Acho que teria usado o melhor vestido que tivesse. É assim que fazem as moças.


Acharia as jovens muito inadequadas para os dias de hoje. As moças não eram encorajadas a estudarem e muito poucas tinham diplomas universitários ou qualquer tipo de distinção acadêmica.


— Muito sensato seria vestir calças compridas e um pullover. É isso, naturalmente (não quero ser esnobe, mas tenho para mim que seja inevitável), o que faria uma moça... de nossa classe.


— Uma moça bem educada é sempre muito ciosa de usar roupas próprias para uma ocasião.


Atualmente as moças têm empregos e se encontram com quem querem, mesmo se são proibidas de fazê-lo.


As mulheres têm muito tino quando se trata de dinheiro. Mas não de altas finanças, naturalmente.


Essas pobrezinhas. Algumas têm mãe — mas parece que é sempre uma mãe que não serve para nada — mães incapazes de proteger as filhas contra paixonites tolas, filhos ilegítimos e casamentos precoces e infelizes. É tudo muito triste.


— As garotas deveriam aproveitar a experiência, o conhecimento do mundo que têm suas mães.


Uma jovem mulher casada, cheia de problemas, ou alguma moça apaixonada... esse é o tipo de gente que escreve cheques de quantias diferentes e não toma conta dos canhotos.


As mulheres, depois de certa idade, são muito parecidas umas com as outras.


Mal adquiriu um pouco de experiência, foi se empregar num restaurante. Em geral é o que gostam de fazer. Acham que têm mais liberdade, sabe, e uma vida mais alegre.


Sabe, é interessantíssimo e muito instrutivo... as coisas que essas moças recortam dos jornais para guardar. Acho que foi sempre assim. Conselhos de beleza, para conquistar o homem que a gente ama. E feitiçaria, bruxedos e acontecimentos fabulosos.




Joan Hickson como Miss Marple



... OS JOVENS


— Os jovens pensam que os velhos são tolos; mas os velhos sabem que os jovens são tolos!


Os jovens têm uma mentalidade muito inocente.


Ah, mas nem todos têm nervos de ferro como o senhor, Coronel Bantry. O senhor pertence à velha escola. A geração mais nova é diferente.


Eu não acredito que se possam criar e educar crianças com o propósito de esperar que cresçam para executarem uma vingança. As crianças, afinal de contas, têm muita sensatez.


— A gente precisa de muito tato na hora de tratar com os jovens.


— Quando se é jovem, quando se possui uma saúde esplêndida e se tem por diante toda uma existência, não está acostumado a dar-se muita importância.


— São os jovens que se suicidam mais facilmente, desesperando-se por efeito de algum fracasso amoroso, arrastados a vezes pelas desilusões e as preocupações.


Sei que muitos jovens hoje em dia saem apenas para drinques e outras coisas. Acham que chá à tarde está fora de moda.


— Crianças sentem as coisas, você sabe. Sentem mais do que as pessoas em volta poderiam supor.


— Exigia-se uma experiência sexual exatamente como se obrigava a tomar um fortificante! Pobres dos jovens de hoje...


— Eu sei que se devem acompanhar os tempos. Não adiantaria nada neste mundo pedir a vocês jovens que usem a escova e a pá de lixo do modo antiquado.




Julia McKenzie como Miss Marple


... CASAMENTO


As pessoas casadas, já notei, gostam muito de brigar e também das reconciliações.


As pessoas como ele só são mesmo desagradáveis quando casam com uma moça pobre por amor. Ficam tão arrependidos de ter feito isso, que se desforram na coitada. Mas se casam com uma rica, continuam a respeitá-la.


Há no interior muito preconceito com relação a pessoas que vivem juntas sem serem casadas.


A espécie de brigas que vocês têm... típicas dos primeiros dias do casamento. Muito... muito diferente das relações ilícitas. Já se disse, a senhora sabe, (e eu acho que é uma verdade), que um casal só pode brigar de verdade quando é realmente casado. Quando não há nenhum vínculo legal, as pessoas são muito mais cuidadosas, têm que se convencer de que tudo é feliz e sereno. Elas têm, sabe, de se justificar. Não ousam discutir.


Tantos homens corriam pelo mundo conduzindo-se como se não fossem maridos!


Eu não me casaria com este rapaz se fosse você, minha querida. Você deseja alguém em quem se apoiar em caso de perigo.


Não era uma mulher muito sensível. Amável, sim. Sensível, não. Podia tomar conta dele quando estivesse doente e gostar dele, mas não acho que, bem, ela soubesse sequer o que ele pensava ou sentia. Isto torna a vida de um homem muito solitária.


Há tantos homens que matam as suas mulheres!


Os homens calados e tranquilos como ele se sentem atraídos normalmente pelos tipos femininos deslumbrantes.


Acho que os casados são os piores.


— Não há dúvidas sobre isto, os maridos realmente, com muita frequência, querem matar suas mulheres, embora, naturalmente, algumas vezes eles somente o desejem e não o realizem mesmo.


Os maridos são frequentemente os suspeitos óbvios, mas o óbvio é tão frequentemente o certo.



Helen Hayes como Miss Marple


... FAMÍLIA:


Hoje, é muito comum a gente não conhecer os parentes mais jovens. Antigamente, quando havia reuniões de família, isso seria impossível.


A solidariedade na família é algo muito forte. Muito forte, mesmo.


Mas continua sendo verdade que ninguém gosta de ver um membro da família enforcado, não é mesmo?


Tudo a mesma coisa todos os dias – não acontecia nada. Não era como em St. Mary Mead, onde sempre acontecia alguma coisa.