Por
ocasião das celebrações do centenário de Agatha Christie em 1990, Rosalind, sua
única filha, fala sobre sua mãe escrevendo sob o pseudônimo de Mary Westmacott.
Livros de Agatha Christie sob o pseudônimo de Mary Westmacott |
Publicado no site oficial de Agatha Christie (link
permanente na lista de páginas; link direto ao final), o artigo escrito por
Rosalind possui uma introdução de Mathew Prichard, neto de Agatha Christie. Ele,
por sua vez, conta que, ao escrever como Mary Westmacott, sua avó tinha a
chance de melhor explorar a psicologia
humana que tanto a intrigava na medida em que estava livre das expectativas de
seus fãs de romances de mistério. Mathew conta ainda que sua mãe, Rosalind,
chamava os romances de Agatha Christie como Mary Westmacott de estórias
agridoces sobre o amor.
Acho que não poderiam ser melhor definidas!
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Por Rosalind Hicks
Por volta de 1930, minha mãe escreveu seu primeiro romance
usando o nome Mary Westmacott. Estes
romances, seis no total, representavam uma ruptura complete com o rótulo
habitual de Agatha Christie a Rainha do
Crime.
O nome Mary Westmacott
foi escolhido após algumas considerações. Mary era o segundo nome de
Agatha, e Westmacott, o nome de um parente distante. Ela conseguiu manter sua
identidade como Mary Westmacott em sigilo por quase vinte anos, e os livros,
para seu grande prazer, tiveram um sucesso modesto.
Giant’s
Bread foi
publicado pela primeira vez em 1930 e foi o primeiro de seis livros sob este nom de plume. É um romance sobre Vernon
Deyre, sua infância, sua família, as duas mulheres que amou e sua obsessão pela
música.
Minha mãe tinha alguma experiência com o universo da música,
uma vez que teve aulas de canto e de piano para concerto em Paris quando ela
era jovem. Ela se interessava por música moderna e tentava expressar os
sentimentos e as ambições do cantor e compositor. Há muito da infância e da 1ª
Guerra Mundial retirados de suas próprias experiências.
Seus editores, Collins, não ficaram muito entusiasmados com
esta mudança de direção em seu trabalho, pois ela, a esta altura, estava
ficando bem conhecida no universo da ficção detetivesca. Eles não precisavam
ter se preocupado. Em 1930, ela também publicou O Misterioso Mr. Quin e Assassinato
na Casa do Vigário, primeiro livro de Miss Marple. Durante os próximos dez
anos, seguiram-se nada menos que dezesseis romances com Poirot, incluindo títulos
como Assassinato no Expresso do Oriente,
Os Crimes ABC, Morte no Nilo e Encontro com a Morte.
Seu segundo livro como Mary Westmacott, Unfinished Portrait, foi
publicado em 1934. Ele também se calcava muito em suas próprias experiências e
juventude. Em 1944, ela publicou Absent
in the Spring. Agatha escreveu em sua Autobiografia:
Agatha Chrsitie |
Pouco
depois disso, eu escrevi o livro que me satisfez completamente. Foi um novo
livro de Mary Westmacott, o qual eu sempre quis escrever, que estava claro em
minha mente. Era o retrato de uma mulher com uma imagem completa de si mesma,
do que ela era, porém, sobre a qual ela estava inteiramente enganada. Através
de suas próprias ações, seus próprios sentimentos e pensamentos, isto seria
revelado ao leitor. Ela estaria, como ocorreu, continuamente se encontrando,
não se reconhecendo, mas se tornando cada vez mais desconfortável. O que a
levou a esta revelação teria sido o fato de que, pela primeira vez em sua vida,
ela se encontrava sozinha – completamente sozinha – por quatro ou cinco dias.
Escrevi
este livro em três dias seguidos... Trabalhei direto... Acho que jamais fiquei
tão cansada... Eu não quis mudar uma palavra, e, embora eu mesma não saiba, é
claro, como ele realmente é, ele foi escrito como eu pretendia escrever, e esta
é a mais orgulhosa alegria que uma escritora pode ter.
Eu acho que Absent in
the Spring combina muitos dos talentos de Agatha Christie, a escritora de
estórias de detetives. É muito bem construído, de leitura compulsiva. Você
consegue ter uma visão maravilhosamente clara de toda a família a partir dos
pensamentos de uma mulher sozinha no deserto – realmente um notável triunfo.
Em 1947 ela escreveu The
Rose e the Yew Tree. Estes eram
grandes favoritos dela e meus também. É uma estória assombrada e bonita.
Estranhamente, Collins não gostou dela, and como eles não tinham sido muito
gentis com nenhuma das estórias de Mary Westmacott, ela o levou para a
Heinemann, que publicou este e seus outros dois livros - A Daughter’s a
Daughter (1952) and The Burden (1956).
Os livros de Mary Westmacott tem sido descritos como
romances românticos, mas eu não acho que este seja realmente um atributo
justo. Elas não são estórias de amor no
sentido geral do termo, e definitivamente elas não tem um final feliz. Elas
são, creio eu, sobre estórias sobre o amor em sua forma mais poderosa e
destrutiva.
O amor possessivo de uma mãe por sua criança, ou de uma
criança por sua mãe tanto em Giant’s Bread and Unfinished Portrait. A batalha
entre a mãe viúva e sua filha adulta em A Daughter’s a Daughter. A obcessão com sua Irma mais nova em The
Burden [O Fardo, em português], e a proximidade entre o amor e o ódio – o fardo nesta estória sendo o peso do amor
de uma pessoa sobre outra.
Mary Westmacott nunca obteve a mesma aclamação crítica de
Agatha Christie, mas os livros alcançaram algum reconhecimento de uma forma
mais modesta, e ela ficou satisfeita quando as pessoas gostaram deles – ela foi
capaz de realizar seu desejo de escrever alguma coisa diferente.
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