quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Agatha & História - AGATHA CHRISTIE E AS ESTÓRIAS AGRIDOCES SOBRE O AMOR


Por ocasião das celebrações do centenário de Agatha Christie em 1990, Rosalind, sua única filha, fala sobre sua mãe escrevendo sob o pseudônimo de Mary Westmacott.


Livros de Agatha Christie sob o pseudônimo de Mary Westmacott


Publicado no site oficial de Agatha Christie (link permanente na lista de páginas; link direto ao final), o artigo escrito por Rosalind possui uma introdução de Mathew Prichard, neto de Agatha Christie. Ele, por sua vez, conta que, ao escrever como Mary Westmacott, sua avó tinha a chance de melhor explorar a psicologia humana que tanto a intrigava na medida em que estava livre das expectativas de seus fãs de romances de mistério. Mathew conta ainda que sua mãe, Rosalind, chamava os romances de Agatha Christie como Mary Westmacott de estórias agridoces sobre o amor

Acho que não poderiam ser melhor definidas!



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Por Rosalind Hicks

Por volta de 1930, minha mãe escreveu seu primeiro romance usando o nome Mary Westmacott. Estes romances, seis no total, representavam uma ruptura complete com o rótulo habitual de Agatha Christie a Rainha do Crime.

O nome Mary Westmacott foi escolhido após algumas considerações. Mary era o segundo nome de Agatha, e Westmacott, o nome de um parente distante. Ela conseguiu manter sua identidade como Mary Westmacott em sigilo por quase vinte anos, e os livros, para seu grande prazer, tiveram um sucesso modesto. 
Giant’s Bread foi publicado pela primeira vez em 1930 e foi o primeiro de seis livros sob este nom de plume. É um romance sobre Vernon Deyre, sua infância, sua família, as duas mulheres que amou e sua obsessão pela música.

Minha mãe tinha alguma experiência com o universo da música, uma vez que teve aulas de canto e de piano para concerto em Paris quando ela era jovem. Ela se interessava por música moderna e tentava expressar os sentimentos e as ambições do cantor e compositor. Há muito da infância e da 1ª Guerra Mundial retirados de suas próprias experiências.

Seus editores, Collins, não ficaram muito entusiasmados com esta mudança de direção em seu trabalho, pois ela, a esta altura, estava ficando bem conhecida no universo da ficção detetivesca. Eles não precisavam ter se preocupado. Em 1930, ela também publicou O Misterioso Mr. Quin e Assassinato na Casa do Vigário, primeiro livro de Miss Marple. Durante os próximos dez anos, seguiram-se nada menos que dezesseis romances com Poirot, incluindo títulos como Assassinato no Expresso do Oriente, Os Crimes ABC, Morte no Nilo e Encontro com a Morte.

Seu segundo livro como Mary Westmacott, Unfinished Portrait, foi publicado em 1934. Ele também se calcava muito em suas próprias experiências e juventude. Em 1944, ela publicou Absent in the Spring. Agatha escreveu em sua Autobiografia:


Agatha Chrsitie


Pouco depois disso, eu escrevi o livro que me satisfez completamente. Foi um novo livro de Mary Westmacott, o qual eu sempre quis escrever, que estava claro em minha mente. Era o retrato de uma mulher com uma imagem completa de si mesma, do que ela era, porém, sobre a qual ela estava inteiramente enganada. Através de suas próprias ações, seus próprios sentimentos e pensamentos, isto seria revelado ao leitor. Ela estaria, como ocorreu, continuamente se encontrando, não se reconhecendo, mas se tornando cada vez mais desconfortável. O que a levou a esta revelação teria sido o fato de que, pela primeira vez em sua vida, ela se encontrava sozinha – completamente sozinha – por quatro ou cinco dias.

Escrevi este livro em três dias seguidos... Trabalhei direto... Acho que jamais fiquei tão cansada... Eu não quis mudar uma palavra, e, embora eu mesma não saiba, é claro, como ele realmente é, ele foi escrito como eu pretendia escrever, e esta é a mais orgulhosa alegria que uma escritora pode ter.

Eu acho que Absent in the Spring combina muitos dos talentos de Agatha Christie, a escritora de estórias de detetives. É muito bem construído, de leitura compulsiva. Você consegue ter uma visão maravilhosamente clara de toda a família a partir dos pensamentos de uma mulher sozinha no deserto – realmente um notável triunfo.

Em 1947 ela escreveu The Rose e the Yew Tree. Estes eram grandes favoritos dela e meus também. É uma estória assombrada e bonita. Estranhamente, Collins não gostou dela, and como eles não tinham sido muito gentis com nenhuma das estórias de Mary Westmacott, ela o levou para a Heinemann, que publicou este e seus outros dois livros - A Daughter’s a Daughter (1952) and The Burden (1956).

Os livros de Mary Westmacott tem sido descritos como romances românticos, mas eu não acho que este seja realmente um atributo justo.  Elas não são estórias de amor no sentido geral do termo, e definitivamente elas não tem um final feliz. Elas são, creio eu, sobre estórias sobre o amor em sua forma mais poderosa e destrutiva.

O amor possessivo de uma mãe por sua criança, ou de uma criança por sua mãe tanto em Giant’s Bread and Unfinished Portrait. A batalha entre a mãe viúva e sua filha adulta em A Daughter’s a Daughter.  A obcessão com sua Irma mais nova em The Burden [O Fardo, em português], e a proximidade entre o amor e o ódio – o fardo nesta estória sendo o peso do amor de uma pessoa sobre outra.

Mary Westmacott nunca obteve a mesma aclamação crítica de Agatha Christie, mas os livros alcançaram algum reconhecimento de uma forma mais modesta, e ela ficou satisfeita quando as pessoas gostaram deles – ela foi capaz de realizar seu desejo de escrever alguma coisa diferente.


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