terça-feira, 25 de julho de 2017

Agatha & História - O INDULTO CHRISTIE



ATÉ O PAPA ERA FÃ DE AGATHA CHRISTIE!



Papa Paulo VI


Conta-se que, nos idos de 1971, em alguma nobre sala do Vaticano, certamente decorada com requinte, fina mobilha, preciosos quadros e belos afrescos, foi entregue ao Papa Paulo VI uma curiosa petição. Assinavam-na diversas pessoas proeminentes na época, entre escritores, poetas, jornalistas, instrumentistas clássicos, muitos deles, lordes ingleses – mesmo embora a maioria delas nem sequer fosse católica!

Sua Santidade teria franzido o cenho com severidade ao começar a ler o documento, enquanto seus secretários e demais membros do clero o observavam, aguardando respeitosamente. O Papa passou então para a próxima página, onde se encontrava a lista com os nomes dos signatários da petição de indulto, e começou a analisá-los com atenção. Foi então que subitamente sua expressão se alterou e um sorriso se esboçou em seu semblante: “Ah, Agatha Christie!”, exclamou satisfeito o Papa Paulo VI, interrompendo o silêncio da sala. E então assinou prontamente o documento em concordância. A história vazou e desde então o indulto passou a ser conhecido como o Indulto Agatha Christie.




MAS,  DO  QUE  SE  TRATAVA  ESTA  PETIÇÃO  DE  INDULTO?






Bem, Agatha Christie não era Católica então, era Anglicana. Porém, ela se juntou a outros artistas e intelectuais da época na petição ao Vaticano por uma questão de luta pela liberdade de escolha, pelo belo e clássico idioma latino e contra decisões arbitrárias. Explico:

Desde a antiguidade até 1965, todas as missas católicas eram rezadas em Latim: as assim denominadas Missas Tridentinas. Houve então uma reunião especial do Clero, conhecida como o Concílio Vaticano II, onde certas modernidades foram implantadas nos rituais da Igreja Católica. Uma dessas modernidades foi a abolição das Missas Tridentinas ou em Latim. O próprio Papa Paulo VI rezou a 1ª missa em vernáculo (língua falada no local) na Itália em italiano, naturalmente.

Pode até parecer uma coisa ótima, não é? As pessoas que não entendiam o que era falado durante as pregações poderiam passar a compreender a mensagem do Vigário. Mas, e quanto àqueles que gostavam da missa em Latim ou àqueles que gostavam da tradição e do fator histórico agregado às missas tradicionais, ou ainda àqueles que apreciavam o idioma enquanto manifestação cultural clássica, ainda que não fossem necessariamente fiéis Católicos, como o caso de Agatha Christie? Na Inglaterra, eles se sentiram lesados e foi então que redigiram a petição pelo indulto: uma permissão especial concedida pelo Vaticano.


O  TEXTO  DO  INDULTO 



Missa Tridentina


Razões e argumentos à parte, a verdade é que o texto da petição é muito bonito: fala de liberdade, de espiritualidade em oposição ao mundo tecnocrata e materialista, de possibilidade de escolha, e, especialmente, enobrece o idioma latino.  Pensei em traduzi-lo, até porque ele é pequeno e bem objetivo – como convém à classe artístico-literária inglesa –, mas, infelizmente, qualquer forma de reprodução do mesmo é proibida sem autorização prévia. O link para o original, porém, encontra-se ao final desta postagem. Vale a pena ler!



 SIGNATÁRIOS  DO  INDULTO: FAMA E  PRESTÍGIO



Agatha Christie


Abaixo, reproduzo a extensa lista de signatários do Indulto, na maioria, escritores, com pequenas observações sobre alguns deles. Percebam o quanto Agatha Christie é importante, pois, mesmo dividindo a assinatura do documento com tantas celebridades, ainda assim, ele foi apelidado com seu nome!

Harold Acton (Sir Harold Mario Mitchell Acton CBE, professor e escritor britânico)
Vladimir Ashkenazy (pianista russo)
John Bayler
Lennox Berkeley
Maurice Bowra (critico literário chinês)
Agatha Christie
Kenneth Clark (diretor do Museu do Reino Unido e historiador de arte)
Nevill Coghill
Cyril Connolly
Colin Davis (maestro inglês)
Hugh Delargy
Robert Exeter
Miles Fitzalen-Howard
Constantine Fitzgibbon
William Glock
Magdalen Gofflin
Robert Graves
Graham Greene (escritor inglês, com uma obra composta de romances, contos, peças teatrais e críticas literárias e de cinema.)
Ian Greenless
Joseph Grimond
Harman Grisewood
Colin Hardie
Rupert Hart-Davis
Barbara Hepworth
Auberon Herbert
John Jolliffe
David Jones
Osbert Lancaster
F.R. Leavis
Cecil Day Lewis (poeta anglo-irlandês, pai do ator Daniel Day-Lewis)
Compton Mackenzie
George Malcolm
Max Mallowan (2º marido de Agatha Christie, arqueólogo)
Alfred Marnau
Yehudi Menuhin (violinista e maetro norte-americano)
Nancy Mitford
Raymond Mortimer
Malcolm Muggeridge (jornalista, escritor, soldado-espião britânico)
Iris Murdoch
John Murray (teólogo escocês)
Sean O'Faolain (contista irlandes)
E.J. Oliver
Oxford and Asquith (H.H. Asquith, ex 1º Ministro Britânico)
William Plomer
Kathleen Raine (poeta e escritora britânica)
William Rees-Mogg
Ralph Richardson (ator britânico, atuou em “Dr. Jivago”, “O Ídolo Caído”, entre outros)
John Ripon
Charles Russell
Rivers Scott
Joan Sutherland (soprano australiana)
Philip Toynbee (poeta e romancista britânico)
Martin Turnell
Bernard Wall (Bispo católico)
Patrick Wall (neurocientista britânico)
E.I. Watkin
R.C. Zaehner (professor, pesquisador, especialista em religioes ocidentais)

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* Confira aqui mesmo nesta blogazine o artigo com fotos da igreja onde Agatha foi batizada e aquela que frequentava:

* Texto original do Indulto Christie:

* Sobre o Indulto Christie:

* Para ler mais sobre Agatha Christie e sua religiosidade: http://www.firstthings.com/onthesquare/2009/08/the-christian-world-of-agatha-christie

Para saber mais sobre a missa em Latim e o Papa Paulo VI:

Para ler mais sobre ritos da missa católica:






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