GEORGE,
O VALETE DE POIROT
David Yelland como George e David Suchet como Poirot |
Por volta de 1937, Hercule Poirot se muda de seu antigo
apartamento para outro redecorado no mesmo prédio, parecendo novinho em folha, conforme
ficamos sabendo em Cartas na Mesa.
Poirot fica satisfeitíssimo com a reestruturação pela qual o prédio passou, com alterações significativas (Os Relógios).
Miss Lemon, por sua vez, que havia se desapontado com o sistema de arquivamento existente, o qual considerava desordenado (Treze à Mesa), se aposenta ou pede demissão, porém, não antes de construir uma mini-versão de seu próprio sistema para o novo escritório da Poirot como um presente de despedida.
Em consequência da saída de Miss Lemon, Poirot contrata um valete de nome George (Seguindo a Correnteza), que vai acompanhá-lo quase até o fim, uma vez que em Cai o Pano, última aventura de Poirot, ficamos sabendo que George teve que ir ao encontro de um parente adoentado.
Poirot fica satisfeitíssimo com a reestruturação pela qual o prédio passou, com alterações significativas (Os Relógios).
Miss Lemon, por sua vez, que havia se desapontado com o sistema de arquivamento existente, o qual considerava desordenado (Treze à Mesa), se aposenta ou pede demissão, porém, não antes de construir uma mini-versão de seu próprio sistema para o novo escritório da Poirot como um presente de despedida.
Em consequência da saída de Miss Lemon, Poirot contrata um valete de nome George (Seguindo a Correnteza), que vai acompanhá-lo quase até o fim, uma vez que em Cai o Pano, última aventura de Poirot, ficamos sabendo que George teve que ir ao encontro de um parente adoentado.
E
assim dá-se início a uma longa relação de .... amizade? Talvez. De
companheirismo? Pode-se dizer que sim. De trabalho dedicado e fiel. Esta, sem
dúvidas!
COMPETENTE,
ESNOBE, SEM IMAGINAÇÃO
David Yelland como George |
Nos livros escritos por Agatha Christie, ao papel de George
é dada muito menos importância do que aconteceu na já clássica série de TV
britânica Poirot. Graças aos produtores da série, George, ou Georges,
como lhe chama Poirot, finalmente ganhou um rosto no imaginário dos fãs,
através da ótima interpretação do ator David Yelland.
Todavia, tanto nos livros como na série, George aça se tornando um personagem contrastante
com o simpático e às vezes ingênuo Capitão Hastings, o fiel amigo de Poirot.
George
é geralmente considerado como um valete inglês clássico, um mordomo
competentíssimo:
Encontrou o imperturbável George a passar
calças a ferro. (O
Mistério do Trem Azul)
...
um esnobe incorrigível, com alto senso de divisão das classes sociais e grande
conhecimento da aristocracia:
- Creio, George, que tens bons conhecimentos da aristocracia
inglesa? - perguntou-lhe.
- Creio que posso responder que sim, monsieur – murmurou George,
como se pedisse desculpa desses conhecimentos.
...
além de ser inteiramente desprovido de imaginação!
- O esquilo, meu bom George, armazena nozes. Se quisermos que a
humanidade valha alguma coisa, meu amigo, devemos aproveitar as lições que nos
dão as criaturas que nos são inferiores no reino animal.
Eu fui também, meu bom George, esquilo. Armazenei fatozinho
aqui, fatozinho ali... e agora vou ao “armazém” e retiro determinada noz, uma
noz que guardei... Compreende-me,
George?
- Nunca pensei, senhor, que as nozes se conservassem durante
tanto tempo, embora saiba que se conseguem maravilhas no campo das conservas...
Poirot olhou-o e sorriu.
INTENSAMENTE INGLÊS
...MAS, O QUE ISSO QUER DIZER?
David Yelland como George |
Ao
descrever George, assim o define Agatha Christie:
George era um indivíduo de rosto
insípido, intensamente inglês. (O Mistério do Trem Azul)
Mas
o que isso quer dizer exatamente?
Talvez
intensamente inglês queira dizer que
George não era dado a muita conversa e, com toda certeza, menos ainda a
intimidades com seu patrão, não importa por quanto tempo tenham trabalhado
juntos ou que tipo de situações tenham vivenciado.
Quaisquer
palavras que pudessem ser substituídas por certo tipo de olhar, uma tossidinha ou um limpar de garganta oportuno
poderiam ser consideradas como um excesso.
- Suponho
que já lhe disseste que estou ocupado com um assunto importante e que não posso
ser incomodado, não é verdade?
George
voltou a tossicar.
- Declarou-me
que viera da província propositadamente para falar-lhe e que não se importava
de esperar. (Seguindo a Correnteza)
E mesmo as
palavras ditas pelo valete eram cuidadosamente escolhidas ou carregadas de
alguma inflexão que poderia significar um discurso inteiro.
Ah, e havia
também as pausas. Sim, porque uma pausa colocada em um determinado lugar no
meio das raras palavras poderia ter o valor de mil
frases.
O criado não comentou a observação e, após pausa conveniente,
perguntou:
- O paletó castanho, senhor? Está um
ventinho fresco... (O Mistério do Trem
Azul)
DESCREVENDO OS FATOS COM PRECISÃO
Talvez, intensamente
inglês refere-se ao seu oficio de mordomo, no qual se inclui servir a seu
senhor da melhor maneira possível. E, no caso de Poirot, a ordem, o método e a
precisão são requisitos indispensáveis a qualquer um que trabalhe consigo.
Haja vista o fato de Poirot confiar plenamente na alta
capacidade de George descrever uma pessoa, da forma mais precisa possível.
Seu criado George se aproximou e murmurou
deferentemente:
- Está lá fora uma senhora que deseja
falar-lhe.
- Que espécie de senhora? informou-se
prudentemente Poirot, que apreciava sempre a meticulosa precisão das descrições
de George. (Seguindo a Correnteza)
UM
OUVINTE LEAL
David Suchet como Poirot e David Yelland como George |
Talvez ainda, intensamente
inglês queira dizer que George sabia perfeitamente como se portar dentro do
papel de leal ouvinte e comentarista coerente.
- Um dia agradável, George, um pouco
fatigante, mas não sem interesse.
George ouviu o comentário com a habitual
cara de pau.
- Ainda
bem, senhor. (O
Mistério do Trem Azul)
Sim, porque a lealdade de George para com seu senhor estava
acima de qualquer suspeita. Isso se refletia no hábito de Poirot de discutir
alguns pormenores de seus casos com seu valete. E os comentários de George não
raro eram bem apreciados por Poirot.
- A personalidade de um criminoso é
interessante, George. Há muitos criminosos que possuem grande encanto pessoal.
- Sempre ouvi dizer que o doutor Crippen
era um cavalheiro de falas agradáveis, e no entanto cortou a mulher aos
bocadinhos.
- Os
teus exemplos são sempre edificantes, George.
É SEMPRE BOM SABER O PORQUÊ DAS COISAS
O fato é que George, por mais intensamente inglês que seja,
e Poirot, por mais belga que seja, desenvolveram uma relação de lealdade e
admiração mútuas. Da parte de Poirot, admiração com um tom de curiosidade:
- Tens
uma grande experiência, George - comentou Poirot. - Às vezes admiro-me de que,
depois de viveres tão exclusivamente com famílias titulares, tenhas descido a
ser meu criado... Atribuo-o a amor da aventura da tua parte... (O Mistério do Trem Azul)
Da parte de George, admiração com ares de esnobismo:
- Não
se trata exatamente disso, senhor – esclareceu George. - Por acaso lera nas
Crônicas Sociais que monsieur fora recebido no Palácio de Buckingham, e como
andava a procurar novo emprego... As notícias diziam que Sua Majestade fora
muito bondosa e cordial consigo e tinha em grande conta a sua competência...
E o que melhor poderia definir uma verdadeira amizade do que
ser uma relação de lealdade e admiração mutuas? Cada um a sua maneira, George e
Poirot tornaram-se mesmo dois grandes e bons amigos. Afinal, como conclui
Poirot:
- É
sempre agradável saber o porquê das coisas - comentou o detetive.
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