Prato do dia:
Um
Crime Adormecido (1976)
Hoje dou início a uma série de postagens, resultado de uma pesquisa sobre a obra de Agatha Christie, focando os quitutes - salgados, doces, bebidas - que recheiam seus livros e saltam aos olhos de seus fãs.
Estas passagens alimentícias podem até não ter uma ligação direta com a trama, como pensariam os leigos em assuntos literários. Mas a verdade é que elas sempre ajudam a desenvolver algum elemento crucial do enredo, como, por exemplo, a caracterização de personagens, o estabelecimento dos seus papéis na sociedade e das relações de poder entre eles; o andamento, teatral ou filmográfico, da cena; a definição dos cenários, etc. Enfim, definitivamente, estes pratos e bebidas que nos dão água na boca nas estórias da Rainha do Crime contribuem para deixá-las ainda mais apimentadas!
Um Crime Adormecido (Sleeping Murder, 1976), embora tenha sido escrito durante a 2ª Guerra Mundial, foi publicado postumamente, uma vez que Agatha Christie faleceu no início daquele mesmo ano, em 12 de janeiro de 1976. Trata-se também do último caso resolvido pela velhinha detetive amadora Miss Marple.
No livro, temos a estória da simpática Gwenda Reed, a jovem recém casada que se mudou para a Inglaterra a fim de encontrar uma casa no Sul, perfeita para iniciar sua nova vida ao lado do marido Giles, que viajava a trabalho. Mas, estranhamente, depois de comprar e se instalar na antiga casa vitoriana, ela parecia se recordar de coisas relacionadas à casa, como os padrões do papel de parede, fatos que ela só poderia saber se já estivesse estado lá – mas isso nunca acontecera! Seria Gwenda então uma espécie de vidente? Era o que ela mesma começava a imaginar... até pedir a ajuda de Miss Marple.
Na bela casa de Gwenda Reed, quem reinava na cozinha era a conservadora Sra. Cocker, que fazia questão de lembrar sua patroa dos costumes britânicos, inclusive aqueles para se alimentar:
Naquela
manhã, a Sra. Cocker pôs a bandeja do café no colo de Gwenda, que se sentara na
cama.
Estas passagens alimentícias podem até não ter uma ligação direta com a trama, como pensariam os leigos em assuntos literários. Mas a verdade é que elas sempre ajudam a desenvolver algum elemento crucial do enredo, como, por exemplo, a caracterização de personagens, o estabelecimento dos seus papéis na sociedade e das relações de poder entre eles; o andamento, teatral ou filmográfico, da cena; a definição dos cenários, etc. Enfim, definitivamente, estes pratos e bebidas que nos dão água na boca nas estórias da Rainha do Crime contribuem para deixá-las ainda mais apimentadas!
O último - de Agatha e de Miss Marple
Um Crime Adormecido (Sleeping Murder, 1976), embora tenha sido escrito durante a 2ª Guerra Mundial, foi publicado postumamente, uma vez que Agatha Christie faleceu no início daquele mesmo ano, em 12 de janeiro de 1976. Trata-se também do último caso resolvido pela velhinha detetive amadora Miss Marple.
No livro, temos a estória da simpática Gwenda Reed, a jovem recém casada que se mudou para a Inglaterra a fim de encontrar uma casa no Sul, perfeita para iniciar sua nova vida ao lado do marido Giles, que viajava a trabalho. Mas, estranhamente, depois de comprar e se instalar na antiga casa vitoriana, ela parecia se recordar de coisas relacionadas à casa, como os padrões do papel de parede, fatos que ela só poderia saber se já estivesse estado lá – mas isso nunca acontecera! Seria Gwenda então uma espécie de vidente? Era o que ela mesma começava a imaginar... até pedir a ajuda de Miss Marple.
Na bela casa de Gwenda Reed, quem reinava na cozinha era a conservadora Sra. Cocker, que fazia questão de lembrar sua patroa dos costumes britânicos, inclusive aqueles para se alimentar:
- Hoje de manhã são ovos mexidos, prosseguiu a Sra. Cocker. - A senhora falou em haddock, mas no quarto não é bom. Deixa muito cheiro. Vou preparar haddock ao molho branco e torradas para o jantar.
Geraldine McEwan como Miss Marple |
Esta passagem situa bem os papéis tanto da Sra. Cocker como de Gwenda: a primeira, como a detentora do conhecimento acerca dos hábitos e costumes corretos a serem seguidos e aquela capacitada a ensiná-los e exigi-los; e Gwenda, que mesmo sendo a dona da casa, se coloca em posição de obediência ou pelo menos de não protestar, na medida em que se curva ante a suposta regra britânica.
Além disso, a passagem pode ser expandida para atestar várias outras coisas que denotam a época e o local da estória (perspectiva diacrônica), dentre elas:
- a dignidade e o orgulho dos quais os criados ingleses eram imbuídos;
- o, digamos, misto de desconfiança e impaciência (para dizer o mínimo) com pessoas estrangeiras ou desconhecidas que provinham de outro local.
- o apego pela tradição e pelos costumes, que são mantidos através das regras de comportamento.
Então vamos ao prato!
Bem, já que a pobre Gwenda não pôde comer seu haddock na cama para o café da manhã, vamos começar então com ele. Eu particularmente adoro haddock, especialmente na forma de sashimi. Mas ao molho branco, como avisa a Sra. Cocker que irá preparar para o jantar, também é delicioso, ainda mais se acompanhados de torradas bem temperadinhas, ou mesmo de batatas cozidas e cogumelos Champion.
O haddock está bem presente na culinária britânica. Podemos encontrar diversas receitas e modos diferentes de prepará-lo (links ao final). Uma delas seria o haddock assado no forno, da forma comum de se assar um peixe, com os temperos de sua preferência e servido em uma postas, regadas ao molho branco. Outra opção bastante comum na Inglaterra é a gratinada, como na receita a seguir. Em ambos os casos, ele pode vir acompanhado das torradas, como provavelmente é o caso do livro, ou de batatas ou cenouras cozidas. (Para esta e outras receitas inglesas veja o link abaixo)
HADDOCK
ao MOLHO BRANCO
e TORRADAS:
INGREDIENTES:
* 1 kg haddock (se for
defumado, melhor ainda!)
* ½ xicara de parmesão ralado* 2 xícaras de leite
* 2 colheres (sopa) de manteiga
* 2 colheres (sopa) de farinha de trigo
* sal, noz - moscada e pimenta do reino branca a gosto
* torradas frescas
* sumo de limão
HADDOCK: Escalde o haddock em água quente e
reserve. Se preferir, use leite no lugar da água: o haddock ficará mais tenro e suculento.
MOLHO BRANCO:
2. Derreta a manteiga, junte a farinha e mexa bem até obter uma pasta homogênea
3. Aos poucos, acrescente o leite e bata, constantemente, para não empelotar
4. Deixe cozinhar por alguns minutos e tempere com sal, noz-moscada e pimenta
• Obs: Essa é uma típica receita francesa, portanto qualquer alteração descaracteriza o molho.
MONTAGEM DO PRATO:
Em um refratário, coloque uma camada de molho, sobreponha o Haddock defumado reservado e cubra com o restante do molho. Por último, salpique com o queijo parmesão ralado e leve ao forno para gratinar. Sirva com torradas frescas salpicadas com algumas gotas de limão - isso dá um sabor surpreendente!
BOM APETITE!!
* Hierarquia dos servidores domésticos na era vitoriana: http://www.waynesthisandthat.com/servantwages.htm
* História dos serviçais na era vitoriana: http://www.historyspark.com/fin/servants.html
* Sociedade inglesa vitoriana:
http://kspot.org/holmes/kelsey.htm
* Receitas britânicas:
http://www.bbcgoodfood.com/recipes/collection/british
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