sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

PERSONAGENS que também AMAMOS - A Língua Afiada de Mrs. Oliver


TAGARELICES

Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver


Uma das coisas que eu mais gosto em Ariadne Oliver é a sua língua! Eu me divirto à beça com a maneira como ela desata a tagarelar deixando Poirot completamente desorientado. E nem sempre é porque ela está excitada com alguma descoberta ou devido a uma linha de pensamento que supõe levará à solução do caso. Não! Na maioria das vezes, ela simplesmente desata a falar, tentanto, é claro, chegar a um determinado ponto, mas dando a maior volta possível, com mil e uma referências e explicações e coisas das quais ela vai se lembrando na trilha de seus pensamentos. Portanto, é uma simples questão de tagarelice mesmo.

Mas também adoro os momentos em que silencia e observa os outros, para depois soltar aqueles seus comentários irônicos e sagazes. Ou ainda, quando revela seus pensamentos e opiniões sobre as coisas da vida  – tudo sempre divinamente interpretada por Zoe Wanamaker, no seriado britânico Poirot.
A RETUMBANTE VOZ DE CONTRALTO
Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver


Aliás, a interpretação de Zoe Wanamaker é um capítulo à parte: ela é para mim a própria encarnação de Ariadne Oliver! Em tudo ela se assemelha às descrições feitas por Agatha Christie em sua obra. E se você está pensando que trata-se na verdade do fruto de um primoroso trabalho da equipe de caracterização (do pessoal da maquiagem, do cabelo, do figurino, etc.), note que o timbre de voz que Zoe Wanamaker consegue imprimir à Mrs. Oliver ao interpretá-la é realmente a retumbante voz de contralto, conforme a descrevia Agatha Christie, fato que somente poderia ser realizado pelo próprio trabalho de uma grande atriz!


Em vista disso, fiz uma breve pesquisa em alguns livros à procura das frases de Mrs. Oliver e selecionei algumas. Espero que se divirtam tanto quanto eu:
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Roberts. Um nome galês! Nunca confio nos galeses!
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Lembre-me de jamais ir nele quando ficar pobre!

(Ariadne dirigindo-se a Poirot e referindo-se ao Dr. Roberts)
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Não está simétrico o suficiente para você, não é?

(Ariadne para Poirot sobre uma obra de arte de bronze)
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(Ariadne) Você redecorou?

(Poirot) Não, Madame, eu me mudei.


(em Cartas na Mesa, 1936)
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Ele não esquia!! Ele tem 60 anos!!

(Ariadne para Robin Upwood)
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(Poirot) Você tem tudo o que precisa?
(Ariadne) Oh, sim, eu estou perfeitamente bem, resmas de papel, oceanos de tinta e eu tenho certeza de que Robin tem gin... Do que mais uma garota precisa?


(em A Morte da Senhora McGinty, 1952)  

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Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver


— Nem bebo — disse a Sra. Oliver. — No que faço muito mal. Eu queria ser como os detetives dos policiais americanos, que vivem com garrafas de uísque embaixo da cama; parece que é o suficiente  para  solucionar  todos  os  problemas.

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Na minha opinião, assim que se comete um crime todas as pistas apontam para o culpado. (...) A  parte  do assassinato é fácil, o difícil é encobrir as pistas. O culpado passa a brilhar que nem gás néon.

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Diga-me Mark, você acha possível matar por controle remoto?

  Como  assim?  Apertando  um  botão,  emitindo  um  raio mortal radioativo?

— Não, não, nada de ficção científica — disse a Sra. Oliver. — Eu me refiro à magia negra.
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— Mas, por que — perguntou ela ao universo — o imbecil não diz logo que viu a cacatua? Por quê? (...)

(Ariadne falando sozinha e ignorando completamente a chegada de Mark)


(em O Cavalo Amarelo, 1961)


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— No almoço eu pensei em elefantes — explicou a Sra. Oliver.

— E por quê? — perguntou Poirot curioso.

— Por causa  dos  dentes, ora! (...) Pensei nos dentes humanos que são de osso, logo bastante fracos, e imaginei que bom seria se eu fosse um cachorro  que  tem  dentes  de  marfim.  Pensei  também  nos hipopótamos  e  nos  elefantes.  Aliás,  quando  alguém  pensa  em marfim,  a  primeira  coisa  que  vem  à  cabeça  é  o  elefante,  não  é? Principalmente aqueles enormes chifres de marfim.

— É bem verdade — disse Poirot, ainda sem entender aonde a Sra. Oliver pretendia chegar.


(em Os Elefantes Não Esquecem, 1972)
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Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver



(Poirot) Como já deve ter deduzido, levou uma pancada na cabeça.
(Mrs. Oliver) Foi. Dada pelo Pavão.
O policial se mexeu na cadeira, confuso, e disse:  — Desculpe-me,  senhora, mas está dizendo que foi atacada por um pavão? (...)
  Veludos e cetim, e cabelos compridos e cacheados  — disse a Sra. Oliver.
  Um pavão vestido de cetim? Um pavão de verdade...  A senhora acredita ter visto um pavão perto do rio, em Chelsea?
— Um pavão de verdade? — perguntou a Sra. Oliver. —  Claro que  não. Que bobagem. O que poderia estar  fazendo um pavão naquelas bandas?
Era uma pergunta que ninguém poderia responder.
(em A Terceira Moça, 1966)

3 comentários:

  1. http://buracosupernegro.blogspot.com/2014/02/agatha-christie-obra-e-autora-last-but.html
    GABRIEL BIRKHANN
    -
    COM LICENÇA,EU REPRODUZO COM AS FONTES...!
    -
    *

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  2. Será que na velhice ela seria como Miss Marple? Ou ela seria a Agatha como um personagem? Aposto na segunda alternativa, já que Ariadne adora maçãs rsrsrsrs. Aliás, seu blog é maravilhoso, parabéns!

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  3. Obrigada! Achei bem interessante sua sugestão de que Mrs. Oliver poderia se tornar uma Miss Marple na velhice. Nunca pensei nisso, mas parece possível. Porém, muitos críticos, estudiosos e fãs acreditam mesmo que Agatha Christie colocou muito de si mesma na caracterização de Ariadne Oliver: e não são só as maçãs, não! Há várias outras coincidências também. Aliás, publiquei um artigo sobre isso aqui mesmo no blog: http://www.agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2013/07/quarta-e-dia-de-last-but-not-least.html
    Por favor, seja sempre bem vinda! Abçs,
    Christy Siqueira.

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