TAGARELICES
Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver |
Uma das coisas que eu mais gosto em Ariadne Oliver é a sua língua! Eu me divirto à beça com a maneira como ela desata a tagarelar deixando Poirot completamente desorientado. E nem sempre é porque ela está excitada com alguma descoberta ou devido a uma linha de pensamento que supõe levará à solução do caso. Não! Na maioria das vezes, ela simplesmente desata a falar, tentanto, é claro, chegar a um determinado ponto, mas dando a maior volta possível, com mil e uma referências e explicações e coisas das quais ela vai se lembrando na trilha de seus pensamentos. Portanto, é uma simples questão de tagarelice mesmo.
Mas também adoro os momentos em que silencia e observa os
outros, para depois soltar aqueles seus comentários irônicos e sagazes. Ou ainda, quando revela seus pensamentos e opiniões sobre as coisas da vida – tudo sempre
divinamente interpretada por Zoe Wanamaker, no seriado britânico Poirot.
A RETUMBANTE VOZ DE CONTRALTO
Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver |
Aliás, a interpretação de Zoe Wanamaker é um capítulo à parte: ela é para mim a própria encarnação de Ariadne Oliver! Em tudo ela se assemelha às descrições feitas por Agatha Christie em sua obra. E se você está pensando que trata-se na verdade do fruto de um primoroso trabalho da equipe de caracterização (do pessoal da maquiagem, do cabelo, do figurino, etc.), note que o timbre de voz que Zoe Wanamaker consegue imprimir à Mrs. Oliver ao interpretá-la é realmente a retumbante voz de contralto, conforme a descrevia Agatha Christie, fato que somente poderia ser realizado pelo próprio trabalho de uma grande atriz!
Em vista disso, fiz uma breve pesquisa em alguns livros à
procura das frases de Mrs. Oliver e selecionei algumas. Espero que se divirtam tanto quanto eu:
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Roberts.
Um nome galês! Nunca confio nos galeses!
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Lembre-me
de jamais ir nele quando ficar pobre!
(Ariadne
dirigindo-se a Poirot e referindo-se ao Dr. Roberts)
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Não
está simétrico o suficiente para você, não é?
(Ariadne
para Poirot sobre uma obra de arte de bronze)
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(Ariadne)
Você redecorou?
(Poirot)
Não, Madame, eu me mudei.
(em Cartas na Mesa, 1936)
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Ele não
esquia!! Ele tem 60 anos!!
(Ariadne para Robin Upwood)
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(Ariadne)
Oh, sim, eu estou perfeitamente bem, resmas de papel, oceanos de tinta e eu
tenho certeza de que Robin tem gin... Do que mais uma garota precisa?
(em A
Morte da Senhora McGinty, 1952)
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Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver |
— Nem
bebo — disse a Sra. Oliver. — No que faço muito mal. Eu queria ser como os
detetives dos policiais americanos, que vivem com garrafas de uísque embaixo da
cama; parece que é o suficiente
para solucionar todos
os problemas.
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Na
minha opinião, assim que se comete um crime todas as pistas apontam para o
culpado. (...) A parte do assassinato é fácil, o difícil é encobrir
as pistas. O culpado passa a brilhar que nem gás néon.
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Diga-me
Mark, você acha possível matar por controle remoto?
— Como
assim? Apertando um
botão, emitindo um
raio mortal radioativo?
— Não,
não, nada de ficção científica — disse a Sra. Oliver. — Eu me refiro à magia
negra.
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— Mas,
por que — perguntou ela ao universo — o imbecil não diz logo que viu a cacatua?
Por quê? (...)
(Ariadne
falando sozinha e ignorando completamente a chegada de Mark)
(em O
Cavalo Amarelo, 1961)
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— No
almoço eu pensei em elefantes — explicou a Sra. Oliver.
— E por
quê? — perguntou Poirot curioso.
— Por
causa dos dentes, ora! (...) Pensei nos dentes humanos
que são de osso, logo bastante fracos, e imaginei que bom seria se eu fosse um cachorro que
tem dentes de
marfim. Pensei também
nos hipopótamos e nos
elefantes. Aliás, quando
alguém pensa em marfim,
a primeira coisa
que vem à cabeça é
o elefante, não é?
Principalmente aqueles enormes chifres de marfim.
— É bem
verdade — disse Poirot, ainda sem entender aonde a Sra. Oliver pretendia
chegar.
(em Os
Elefantes Não Esquecem, 1972)
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Zoe Wanamaker como Ariadne Oliver |
(Poirot) Como já deve ter deduzido, levou uma pancada na cabeça.
(Mrs. Oliver) Foi. Dada pelo Pavão.
O policial se mexeu na cadeira, confuso, e disse: — Desculpe-me, senhora, mas está dizendo que foi atacada por um pavão? (...)
— Veludos e cetim, e cabelos compridos e cacheados — disse a Sra. Oliver.
— Um pavão vestido de cetim? Um pavão de verdade... A senhora acredita ter visto um pavão perto do rio, em Chelsea?
— Um pavão de verdade? — perguntou a Sra. Oliver. — Claro que não. Que bobagem. O que poderia estar fazendo um pavão naquelas bandas?
Era uma pergunta que ninguém poderia responder.
(em A Terceira Moça, 1966)
http://buracosupernegro.blogspot.com/2014/02/agatha-christie-obra-e-autora-last-but.html
ResponderExcluirGABRIEL BIRKHANN
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COM LICENÇA,EU REPRODUZO COM AS FONTES...!
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Será que na velhice ela seria como Miss Marple? Ou ela seria a Agatha como um personagem? Aposto na segunda alternativa, já que Ariadne adora maçãs rsrsrsrs. Aliás, seu blog é maravilhoso, parabéns!
ResponderExcluirObrigada! Achei bem interessante sua sugestão de que Mrs. Oliver poderia se tornar uma Miss Marple na velhice. Nunca pensei nisso, mas parece possível. Porém, muitos críticos, estudiosos e fãs acreditam mesmo que Agatha Christie colocou muito de si mesma na caracterização de Ariadne Oliver: e não são só as maçãs, não! Há várias outras coincidências também. Aliás, publiquei um artigo sobre isso aqui mesmo no blog: http://www.agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2013/07/quarta-e-dia-de-last-but-not-least.html
ResponderExcluirPor favor, seja sempre bem vinda! Abçs,
Christy Siqueira.