A menina Jane Marple, sua mãe, sua avó, seus tios e
até mesmo um certo
namoradinho...
Julia McKenzie como Miss Marple |
Não adianta negar: todos temos
um passado. E não é que nossa velhinha detetive, solteirona e religiosa, também
o tem? Bem, Miss Marple sempre foi muito correta, e não há – até onde se sabe –
nada demais em seu passado. Mas, como já a conhecemos bem velhinha, é sempre
bom saber um pouco mais sobre sua vida pregressa.
Os dados não são muitos e
estão espalhados pela obra de Agatha Christie, um pedacinho aqui, outro ali.
Porém, é em O Caso do Hotel
Bertram que encontramos a maioria das informações sobre o passado de Miss
Marple, uma vez que ela mesma se deixou levar pelos devaneios e pelas
lembranças de uma outra vez, há décadas, quando lá se hospedou.
No artigo que publiquei há
pouco tempo – O que mais sabemos da vida
de Miss Marple? (http://agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2015/02/cha-e-bolinhos-com-miss-marple-o-que.html
), mencionei fatos sobre seus
estudos e as matérias que cursou, suas colegas de escola, sua viagem pela
Europa quando mocinha, visitando a França, e a forma como foi educada – de
acordo com a época, todavia, antiquada para os dias atuais – pelo que uma moça
de família não trabalhava e crescia para formar família.
No artigo de hoje,
apresentarei outros dados sobre o passado de Miss Marple, conforme suas lembranças
e em suas próprias palavras. Afinal, quem melhor do que ela mesma para nos
contar, do seu jeitinho todo fofo e
especial, sobre as pessoas e as coisas?
LEMBRANÇAS DO TIO THOMAS E DA TIA HELEN
Joan Hickson como Miss Marple |
— Hotel
Bertram's? O nome
era vagamente familiar.
As palavras acorreram em tropel a
Miss Marple:
— Eu
me hospedei lá
uma vez —
quando tinha quatorze
anos. Com meu tio e minha tia, tio
Thomas, que era então Cônego de Ely. E nunca me esqueci de lá.
(...)
Em tempos
passados, Army &
Stores era o
ponto predileto da tia
de Miss Marple. Claro que atualmente já
não era a mesma coisa. Miss Marple
relembrou tia Helen a
procurar o seu
caixeiro predileto na seção de secos e molhados, confortavelmente
instalada numa cadeira, com a touca na cabeça e o que chamava de manto de
"popelina preta" nos
ombros. (O Caso do
Hotel Bertram)
MISS MARPLE JÁ FOI SÓ UMA MENININHA -
DÁ PRA IMAGINAR?!
Margareth Rutherford como Miss Marple |
A menina Jane
impacientava-se um pouco
e então recebia
ordem de ir olhar a seção de artigos de vidros, para
se distrair.
(...) E depois
de passar uma agradável
manhã, tia Helen
dizia, no estilo
brincalhão daqueles tempos: "Será
que a menininha
quer almoçar?" Tomavam então o elevador para o quarto andar,
almoçavam, terminando sempre por um sorvete
de morango. Por
fim, compravam meia
libra de chocolates ao creme de café, e iam para um matinê numa
carruagem, daquelas de quatro rodas. (O
Caso do Hotel Bertram)
O NAMORADINHO DE MISS MARPLE
Geraldine McEwan como Miss Marple |
Miss
Marple gostava de ficar
sentada, a recordar. Singularmente, aquilo
a fazia reviver — Jane Marple,
aquela garota em branco e rosa, tão inquieta... tão tolinha,
em muitas coisas... E
quem seria aquele
rapaz muito pouco recomendável
que se chamava...
Oh, Senhor,
não conseguia lembrar-se do
nome dele... E,
muito sensatamente, a
mãe da garota resolvera cortar
aquela amizade em
botão. Anos depois
ela o encontrara —
e, com efeito,
tivera uma impressão
horrível. Mas na ocasião adormecera chorando durante pelo
menos uma semana! (O Caso do Hotel Bertram)
AS TOUCAS DA AVÓ DE MISS MARPLE
– E A FAMOSA MENÇÃO A SUA MÃE
Angela Lansbury como Miss Marple |
— Lembro-me
— disse Miss
Marple afastando-se do seu tema
principal de
maneira característica — lembro-me de uma viagem que fiz a Paris, com
minha mãe e minha avó, e de que fomos tomar chá no Hotel Elysée.
E minha avó, olhando em
volta, disse de repente: "Clara, creio
que sou a
única mulher aqui
que está de
touca!" E era mesmo!
Quando
chegamos em casa,
ela embrulhou todas
as suas
toucas
e suas capas enfeitadas de contas, e mandou tudo...
— Para
um bazar de caridade? — perguntou Papai com simpatia.
— Não.
Ninguém quereria aquilo
nem num bazar
de caridade.
Mandou tudo
para uma companhia
teatral, onde o
presente foi apreciadíssimo. (O Caso do Hotel
Bertram)
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