Vamos, conte-me, como vocês vivem lá?
bazar em Istambul |
Quando me perguntam qual é o meu livro favorito de Agatha Christie, eu respondo imediatamente: Desenterrando o Passado (Como, Tell Me How You Live). Porém, geralmente, a maioria dos fãs da escritora me encara com uma expressão interrogativa no rosto. Mas, esse livro tem outro título? É do Poirot ou da Miss Marple? Não e não: o título é esse mesmo e não é de nenhum dos dois detetives. Sequer é sobre uma história de detetives. Nem de crime, nem de mistério! Mas que livro é esse, afinal? É da Agatha Christie mesmo ou é sobre ela? É bom?? Sim, foi escrito pela própria e é simplesmente adorável!
meu exemplar |
Se me perguntassem Qual é o livro de mistério de Agatha Christie que você mais gosta, minha resposta certamente seria outra. Desenterrando o Passado é uma agradável viagem ao Oriente em companhia do casal Agatha e Max Mallowan. A melhor definição sobre a obra nos é apresentada pela própria autora no Prefácio do livro:
Este
livro é uma resposta. É a resposta a uma pergunta que me fazem frequentemente: ‘Então
você faz escavações na Síria, não é? Conte-me tudo a respeito. Como você vive?
Numa tenda?’, etc., etc.
A Escritora, os Árabes e os Europeus
deserto do Saara |
Com seu estilo peculiar de descrever os personagens de forma impecável, Agatha Christie vai nos apresentando a indivíduos interessantíssimos – e, o melhor de tudo, pessoas reais – que ela conheceu e com as quais conviveu durante o tempo em que acompanhou seu marido arqueólogo pelas escavações onde trabalhava. Vamos nos inteirando, de um modo divertido, sobre os nativos, seus hábitos, seu modo de encarar os estrangeiros – no caso, a própria Agatha Christie e os outros europeus – suas formas de pensar e entender o mundo. Conhecemos desde beduínos a Xeques, humildes servos árabes a orgulhosos oficiais militares. Da mesma forma, vamos também interagindo com figuras ocidentais excêntricas e interessantes, que andavam por aquelas bandas àquela época.
Viagem pelo Mundo das
Mil e Uma Noites
mesquita |
Como se isso não bastasse, acabamos fazendo uma incrível viagem pelos lugares exóticos por onde o casal Mallowan passou. Através do olhar aguçado da escritora, passeamos de camelo, de burro, a cavalo, em charretes, em caravanas, de carro, de ônibus, em frágeis barcaças ou em grandes barcos pelos rios da região. Conhecemos comidas, especiarias, cheiros, gostos, visitamos bazares, mesquitas, palácios, templos, casas típicas, tendas simplórias, assim como casarões de ocidentais, erguidos na região. Viajamos pela Turquia, pela Síria e pela antiga Mesopotâmia, hoje, o Iraque. Aprendemos muita coisa preciosa sobre seus costumes e sua história – afinal de contas, estamos na privilegiada companhia de um dos mais conceituados arqueólogos da época - não nos esqueçamos disso!
Como Hóspedes de Agatha e Max
O Casal Mallowan - Agatha e Max |
Porém, o mais bacana mesmo deste livro, em minha opinião, é poder conviver por um tempo em companhia de Agatha e Max. Como se fossemos seus hóspedes, membros de seus círculo de amigos íntimos. De um modo tranquilo e despretensioso, Agatha Christie vai nos permitindo testemunhar seu cotidiano ao lado do marido, compartilhar das miudezas e trivialidades do dia a dia bem como das preocupações caseiras, desde fazer as camas pela manhã ao trato com os criados de temperamento incerto, desde percalços com os meros carrapatos dos cachorros à estrada enlameada onde o cavalo afunda as patas.
Como coloca Agatha Christie ao final do Prefácio:
Sempre modesta nossa querida escritora. Este livro é, na verdade, um agradável e tranquilo passeio, recheado do delicioso estilo bem humorado com que Agatha Christie nos descreve com precisão as pessoas, as coisas, os lugares e os fatos: é quase como se estivéssemos mesmo por lá. Sendo assim, então, boa viagem!
Este é, na verdade, uma ninharia – um livro
muito pequeno, cheio de quefazeres e acontecimentos cotidianos.
Sempre modesta nossa querida escritora. Este livro é, na verdade, um agradável e tranquilo passeio, recheado do delicioso estilo bem humorado com que Agatha Christie nos descreve com precisão as pessoas, as coisas, os lugares e os fatos: é quase como se estivéssemos mesmo por lá. Sendo assim, então, boa viagem!
Desenterrando
o Passado, Ed. Nova Fronteira, tradução de Cora Ronai Vieira, 1974.
Duas coincidências:
ResponderExcluir1 - Reli ele inteiro ontem
2 - Viagem à Terra da Rainha do Crime é escrito de uma forma diretamente inspirada nele e em 8:55 to Bagda de Andrew Eames
Salut!
Eu amo esse livro. Max também e os editores odiaram, mas Agatha firmou o pé e ele foi publicado.
É o meu predileto! Como disse na postagem, sinto-me como se fosse sua hóspede.
ResponderExcluirGosto muito desse livro, já li umas três vezes e sempre encontro algo novo nele. Dá para sentir que nessas viagens ela tirou inspiração para vários livros, o primeiro que me vem a cabeça é Morte na Mesopotamia,mas tem outros.
ResponderExcluirConcordo plenamente, Carla: sempre que relemos, encontramos alguma perspectiva diferente. Eu particularmente gosto muito do humor irônico e refinado de Agatha Christie - característica que fica mais difícil de ele demonstrar nas estórias de crime e mistério. Obrigada pelo comentário! Participe sempre! Abraços.
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