Conforme consta, o primeiro livro que trouxe aventuras de Miss Marple foi Assassinato na Casa do Pastor (Murder at the Vicarage, 1930). Mas, o que será que a adorável senhorinha idosa andava fazendo antes de ser tornar a Miss Marple de St.Mary Mead que todos conhecemos?
Agatha Christie não estava falando em vão quando declarou na Autobiografia que Miss Marple se insinuou quieta e silenciosamente dentro de sua mente. Ocorre que a esperta velhinha já andava por aí, ou melhor, já perambulava pela obra e pelas ideias de Agatha Christie algum tempo antes de sua primeira aparição oficial.
Ensaiando para Miss Marple
(...) uma
solteirona cheia de curiosidade, que sabe tudo, escuta tudo
– é o serviço
completo de um detetive em casa.
Hum, isso por acaso lhe recorda alguém? Lembre-se de que no início Miss Marple não era nem doce, nem gentil, mas sim, uma velhota fazedora de intrigas! (Leia mais sobre as duas personalidades de Jane Marple em: http://agathachristieobraeautora.blogspot.com.br/2013/07/domingo-e-dia-de-cha-e-bolinhos-com_6.html )
Pois foi a própria Agatha Christie quem declarou décadas mais tarde na Autobiografia que a personagem Caroline Sheppard foi uma espécie de ensaio ou introdução à Miss Marple.
Do mesmo modo, os habitantes do vilarejo descrito em O Assassinato de Roger Ackroyd viriam a se transformar nos célebres moradores de St. Mary Mead, o vilarejo onde depois habitaria Miss Marple.
Joan Hickson como Miss Marple |
"Como é semelhante o mundo
em todo lugar!"
Agora, vamos para 1928, ano de
publicação de O Mistério do Trem Azul (The Blue Train).
Lá encontramos Katherine Grey, uma jovem mulher de 33 anos que costumava
trabalhar como acompanhante para uma viúva idosa chamada Mrs. Harfield. Embora
o primeiro nome de Mrs. Harfield fosse Emma, seus amigos e vizinhos a chamavam
de Jane.
Hum, isso pode ser apenas uma coincidência corriqueira de homônimos, já que o primeiro nome de Miss Marple tembém é Jane. Todavia,
acontece que o nome da tal vila onde esta outra tal Jane de O Mistério do Trem Azul morava chamava-se St. Mary
Mead: a mesma onde reside a também idosa Jane Marple!
Outro fato interessante ligada a O Mistério do Trem Azul é que a própria jovem
Katherine Grey, em determinado momento, pensando alto, fala assim consigo
mesma:
Onde foi que você já ouviu estas mesmas palavras antes, hein? Ou melhor, proferidas por quem? Se você está familiarizado com o jeitinho de Miss Marple, sabe bem a resposta.
Oh, céus! Como extraordinariamente
semelhante é o mundo em todo lugar! As pessoas estavam sempre me contando
coisas em St. Mary Mead, e elas são exatamente as mesmas coisas aqui.
Onde foi que você já ouviu estas mesmas palavras antes, hein? Ou melhor, proferidas por quem? Se você está familiarizado com o jeitinho de Miss Marple, sabe bem a resposta.
Julia McKenzie como Miss Marple |
Acontece uma Mágica Misteriosa
A construção de personagens por
um escritor é uma coisa engraçada. E um mistério também. Eu sou escritora: eu sei muito bem disso!
Nós julgamos,
orgulhosos, que somos nós quem inventamos, criamos, concebemos um personagem.
Tolos, acreditamos que somos os donos deles. Ah, ledo engano! Existe uma mágica misteriosa que acontece conosco - simples escritores - e que faz com que os personagens, que viviam em uma outra dimensão qualquer, atravessem a barreira para nossa realidade e ganhem vida através de nossa escrita. É praticamente uma psicografia.
Como reconheceu muito
sabiamente Agatha Christie na Autobiografia,
seus personagens:
(...) formaram uma fila
diante da fronteira de sua consciência, prontos para saltarem diretamente para
o palco
– e para as páginas dos livros.
Miss Marple aguardava na fila a
sua vez de tomar vida, mas, sem querer, acabou esbarrando em alguma coisa e
chegou um pouquinho mais cedo. Que bom!
Em "é facil matar" aparece uma velhinha bastante curiosa e envolvida em investigações, Miss Pinkertin. A descrição dela lembra muito nossa querida Marple tbm!
ResponderExcluirÓtima lembrança, Viny! A Miss Pinkertin faz lembrar demais Miss Marple mesmo. Abraços,
ExcluirChristy.