terça-feira, 3 de setembro de 2013

Entre Aspas: Como tudo começou


ENTRE DOIS PONTOS HÁ UMA 

LONGA LINHA SINUOSA.



O que levou Agatha Christie a se tornar uma escritora de romances de crime e suspense?



Agatha Christie

Seja quando nos tornamos fãs da escritora, seja qualquer outra pessoa que sabe de sua fama mundial como a Rainha do Crime, em dado momento nos fazemos esta pergunta, não é mesmo? Bem, confesso que este está longe de ser um caso misterioso: qualquer resumo básico a respeito de Agatha Christie – destes os encontrados na orelha de um livro até em um anúncio de DVD, passando pelas resenhas promocionais publicadas pelas editoras, – todos vão responder a questão dizendo que: ou foi por conta de uma aposta que ela fez com sua irmã Madge, ou que foi porque aprendeu sobre medicamentos e venenos no tempo em que trabalhou como enfermeira voluntária, ou ainda pelas duas coisas.

Mas, e o que a própria Agatha Christie tem a dizer sobre isso? Como foi que os acontecimentos foram se desenrolando e se confluindo e direcionando sua vida para este caminho? Mais importante: como é que ela mesma vivenciou, experimentou tais acontecimentos?

Pesquisei na Autobiografia – (Quer melhor fonte de sua própria voz e de seus pensamentos do que esta?) – e vejam que interessante o que encontrei: como ela era modesta e não se aproveitava do sucesso para se vangloriar, como era por vezes sensata e, por outras, contraditória. Enfim, como Agatha Christie era uma mulher absolutamente normal: esposa, mãe, sofrida, feliz, insegura, satisfeita - e, ao mesmo tempo, uma escritora simplesmente genial!

Ordenei os fatos pela ordem cronológica conforme a própria escritora nos responde, então, a antiga pergunta - como Agatha Christie se tornou escritora de contos de crime e mistério - por ela mesma:




Agatha Christie jovem


Reminiscências e franqueza:  


(3ª Parte: Entrada na Adolescência)

Pessoalmente, eu não possuía ambição. Sabia que não era de primeira classe em coisa alguma. Gostava de praticar tênis e cricket, mas nunca fui boa jogadora. Seria muito mais interessante se pudesse dizer que sempre ambicionara vir a ser uma escritora e que estava decidida a, um dia, alcançar êxito. Honestamente, porém, essa ideia jamais me passou pela cabeça.



Agatha Christie jovem


(5ª Parte: A Guerra)
O primeiro livro:   


Foi quando trabalhava no dispensário que concebi a ideia de escrever uma história policial. Essa ideia permanecia em minha mente desde o tempo em que Madge me desafiara a escrevê-la – e meu atual trabalho parecia oferecer a oportunidade favorável. Ao contrário da enfermagem, onde sempre havia o que fazer, o serviço do dispensário tinha períodos muito atarefados e outros mais frouxos. (...) Comecei a considerar que espécie de história policial poderia escrever. Visto que estava rodeada de venenos, talvez fosse natural que selecionasse a morte por envenenamento. (...) Depois tratei da dramatis

personae. Como? Por quê? E tudo mais. (...) Naturalmente, teria que aparecer um detetive. (...) Ele teria que ter um amigo íntimo, uma espécie de ator coadjuvante – não seria tão difícil assim! Retornei a meus pensamentos a respeito dos outros personagens. Quem seria assassinado? (...) Continuei brincando com essa ideia por algum tempo. Pedacinhos dessa estória começaram a crescer. Visualizei o assassino. Teria aspecto sinistro. (...) Não era fácil encontrar tempo, mas consegui. (...) Terminei a última metade do livro, ou quase, durante os meus 15 dias de férias. Claro que foi o final. Depois tive que reescrever grande parte do livro – principalmente porque ali pelo meio a coisa se complicava demais. Enfim terminei e estava razoavelmente contente. Quer dizer, o livro estava mais ou menos conforme eu tivera a intenção de fazer. Poderia ser muito melhor, isso eu própria percebia, só que não sabia como fazer melhor, de modo que o deixei como estava. (...) Enviei-o a um editor – Hodder e Stoughton – que o devolveu. Foi uma recusa formal, sem quaisquer rodeios. Não fiquei surpreendida – não esperava êxito; n entanto, enviei-o a outro editor.



Agatha Christie e sua filha Rosalind

Após o divórcio, tornando-se profissional:    

(7ª Parte: A Terra da Alegria Perdida)

– Olhe lá, Rosalind, - dizia eu, - Não deve me interromper. Tenho um trabalho importante para fazer. Estou escrevendo outro livro. Carlo e eu estaremos ocupadas com isso por uma hora ainda. Não deve nos interromper. – Esta bem. – dizia Rosalind sombriamente e ia-se embora. Eu olhava para Carlo, sentada com o lápis pousado, e pensava, pensava, pensava, queimando os meus miolos. (...) Eu errava, gaguejava, hesitava, repetia-me. Na verdade, nem sei como consegui escrever aquele pobre livro! [O Mistério do Trem Azul] Não senti a menor alegria ao escrevê-lo, o menor entusiasmo. (...) Continuei empurrada pelo desejo, ou melhor, pela necessidade desesperada de escrever outro livro para ganhar algum dinheiro.

Foi nesse momento que deixei de ser amadora e passei a profissional. Assumi o encargo de uma profissão que consiste em escrever, mesmo quando não sentimos vontade, não gostamos do que estamos escrevendo e sentimos que não estamos escrevendo especialmente bem.


Agatha Christie

Nova vida, felicidade, sucesso:

(8ª Parte: Segunda Primavera)

Agora ia ganhando confiança em que escrevia e achava que não teria dificuldade em produzir um livro por ano e, possivelmente, também alguns contos. A parte mais agradável para mim neste tempo estava diretamente relacionada com o dinheiro. (...) Que diferença dos últimos 10 ou 20 anos da minha vida! Nunca sei quanto devo. Nunca sei quanto dinheiro possuo. (...) A minha obra começava a sair em folhetins nos EUA, e o dinheiro que recebia de lá, além de ser muito mais do que estava acostumada a receber pelos direitos autorais de folhetins na Inglaterra, era livre de impostos.



Agatha Christie e seu 2º marido Max Mallowan


Novo casamento, apego à tradição, contradições:


Acho que nessa altura eu ainda não me considerava um escritor ‘bona fide’. Escrevia, sim, livros e estórias. Os meus trabalhos eram publicados e começava a costumar-me ao fato de

poder contar com uma fonte de rendimento segura. Quando porém eu tinha que preencher algum formulário e chagava a linha que tinha que indicar a minha profissão, nunca me ocorria escrever nada que não fosse a antiga e honesta fórmula: ‘mulher casada.’ Eu era uma mulher casada, esse era o meu status e essa era a minha ocupação. Como passatempo, escrevia livros. Nunca conferi honras de ‘carreira’ ao fato de escrever livros. (...)


Gostaria de ser uma boa escritora de livros policiais, sim, e realmente, por essa altura, tinha a vaidade de pensar que era uma boa escritora de livros policias.
Agatha Christie



ESPECIAL  SETEMBRO:
MÊS AGATHA CHRISTIE


2 comentários:

  1. Parabéns pelo post e pelo blog ! Conheça e compartilhe nosso humilde blog sobre o mundo de Agatha Christie, criado em 2008, em

    https://acasatorta.wordpress.com/

    Já coloquei o seu na nossa lista de links.

    Grande abraço !
    Tommy Bereford
    Blog A Casa Torta - Rumo ao post 1000

    ResponderExcluir
  2. Que legal, Tommy Baresford, muito obrigada! Fico feliz que esteja gostando de minha igualmente humilde Revista-blog. Vou acrescentar um link para o seu blog aqui também (não sei se notou, mas mantenho alguns links na parte superior deste.) Ele é ótimo, com muitas informações atualizadas, em uma vertente mais jornalística. Abraços e seja sempre bem vindo!

    ResponderExcluir